O Sagrado
O Sagrado, diferente de uma visão que creio popular e enraizada no conceito da maioria, para mim, nada tem a ver com espiritual ou transcendental, mas sim, é aquilo pelo qual nos sacrificamos. Mais sagrado é aquilo pelo qual temos a coragem e o desapego de mais nos sacrificar, inclusive sacrificando, em casos extremos, a própria vida. Todos, antes de naturalmente repetirmos coisas como se sagradas fossem, deveríamos enfrentar nossos mais secretos sentimentos, nosso complexo sentir, com coragem, com ousadia sincera, com vontade e a verdade dos fortes e ousados, e responder para nós mesmos, o que realmente nos é sagrado (aquilo pelo qual sacrificaríamos nosso viver), respondendo não o que fomos educados e catequizados a responder como sagrado, mas sim responder o que, e pelo que, realmente temos a coragem e a entrega para nos sacrificar, e se for o caso em que nível de profundidade de entrega, até a onde me entregaria neste sacrifício, até a onde temos o altruísmo e a doação de nós mesmos para sacrificarmos nossas vidas. Isto é realmente o sagrado para nós, todo o resto é retórica, ou catequeses.
Podemos, para alguns, até mesmo de forma dolorosa e com espanto, perceber que o que realmente nos é sagrado, não é o que repetíamos de voz aberta, não necessariamente a religião nos é sagrada, não necessariamente os deuses nos são sagrados, as vezes um pouco de cada, mas falar em verdade, sobre o que nos é sagrado é ter a coragem de nos expormos abertamente nestas respostas, mas saiba que pode doer, pode até mesmo ofender, o que pensamos de nós mesmos. Meus filhos me são sagrados, não porque sejam “santos”, perfeitos, melhores que os outros, mas simplesmente por que por eles eu sacrificaria minha vida.
De bom, nos conheceremos em verdade um pouco mais, saberemos realmente o que nos é sagrado, e podemos descobrir que muito poucas coisas o são em verdade, em alguns casos somente mesmo os filhos, e outra coisa de bom é que esta resposta não precisa ser pública, mas tem que ser realmente sincera. Faça um exercício e busque realmente ver o que te é sagrado, o pelo que você entregaria sua vida por aquilo. Apenas um exemplo, quem me acompanha já sabe que não tenho religião alguma, que não creio em deus algum, mas uma pergunta que deve ser corajosamente respondida pelos que se dizem religiosos ferrenhos é:
Se você tivesse que escolher entre ficar vivo para defender uma religião, a sua religião, ou morrer para salvar o seu filho, o que seria mais sagrado. Maldade? Pode até ser, mas você tem que responder, não para mim, mas para você mesmo. No meu caso não tenho a menor dúvida que entregaria minha vida para salvar meus filhos, assim neste exemplo, meu filho é muito mais sagrado para mim que qualquer religião, o que no meu caso é obvio de mais, mas mesmo que trocasse a religião pela ciência, a vida de meus filhos é mais importante que qualquer defesa científica. Em exercício mental percebi que não existe, para mim, um sagrado absoluto, ou que normalmente não existe para mim este sagrado absoluto, quando temos tempo para pensar e construir uma abordagem crítica. O sagrado para mim, em geral, depende da conjuntura de momento, do escopo envolvido, da realidade que conheço, e do grau social aplicável, e é lógico, de ter que tomar uma decisão urgente, ou ter tempo para digerir e raciocinar prós e contras, alcances e impactos de cada uma das decisões.
Mas se prepare para o que você poderá descobrir sobre você mesmo em relação ao que te seja realmente sagrado. Você poderá se descobrir um pouco diferente do que você pensa que é, bem como diferente do que gostaria que fosses.
Última provocação. Respondamos sinceramente para nós mesmo, é hipotético eu sei, mas não menos revelador, é um exercício mental, mas pode nos surpreender. Eu ateu estou intimado a tomar uma de duas ações, morrer ou renegar meu ateísmo. Você religioso está intimado a tomar uma das duas ações, morrer ou renegar seu deus, muitos se verão impossibilitados sequer de pensar nesta possibilidade, mas tentemos, com sinceridade, e poderemos descobrir que a vida, a nossa vida, nos é mais sagrada do que nossas crenças, por mais que acreditemos em nossas crenças, e veja que fui gentil em não fazer a mesma pergunta em relação a nossos filhos...
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