Um ateu não faz apostas com sua existência
Um ateu não faz aposta com sua existência, uma vez que nada
espera do depois. Um ateu ama a vida intensamente, pois sabe que ela é única e
fatal, que ela não se repetirá ou se perpetuará de forma alguma. Ele sabe que é
um passageiro entre o nada que já foi, e o nada que voltará a ser. Um ateu não
joga sua existência em um futuro irreal. Um ateu ama a vida e ama o próximo, de
toda sua realização, porque sabe que tendo uma única chance, deve aproveitá-la
com humanidade, com seriedade, e com respeito humano e social. Um ateu não põe,
ou coleciona, fixas em um tipo de deus (qualquer deus), ou em um tipo de religião
que lhe promete garantir um amanhã (depois desta vida), simplesmente porque
este amanhã nunca virá.
Um ateu por si só não é melhor nem pior que um crente,
talvez mais sincero em seus atos, mas como qualquer humano, existem os ateus de
índole boa e humana, e existem os ateus revoltados ou de índole má e doentia,
exatamente como os crentes, pois que existem ateu de momento, eu diria que
estão ateus, mas que não sabem sequer porquê. Um ser humano pode ter se tornado
ateu, por vários caminhos (todos são válidos, desde que sem ofender a dignidade
humana de si e nem de ninguém, pois que vividos em plenitude de sua humanidade),
mas ele somente será um ateu de respeito, deixando simplesmente de estar ateu,
quando interioriza, quando toma conhecimento exato do porque é um ateu, do porquê
ser ateu lhe faz mais sincero, do porque a busca de uma verdade lhe levou até o
ateísmo.
Já a algum tempo, li um texto em que falava que o ateu fazia
uma aposta (ao escolher ser ateu), e que ao morrer caso se encontrasse com deus
teria melhores ganhos do que aquele que sempre teve crença neste deus. Pura
falácia de sentido. Se, mesmo que eu morresse, e viesse a encontrar este tal
deus, eu diria exatamente o que digo hoje, mesmo se existisse algo espiritual, que
ele não poderia ser um deus, pois deus teria que por definição ser o extremo
bem, deveria ser onipotente, onipresente e onisciente, e este ser que eu
encontraria não seria nada disto, pois que no mínimo se omitiu e não teve a
capacidade de ajudar milhões de milhões de pessoas ao longo do tempo, além do
que não poderia, com respeito a logica, ser ao mesmo tempo onisciente e
onipotente, um por característica de seu próprio conceito, restringe o outro.
Não seria extremo bem e total amor, pois sendo onipotente e
onisciente permitiu, ao longo do tempo da existência humana, sofrimentos
avassaladores. Qualquer um que vir a realidade de uma guerra, sabe o quanto a
humanidade é destruída, quanto sofrimento, quantas famílias desfeitas, quantas
crianças mortas ou abandonadas, quanta miséria humana surge das guerras (e as
guerras não são a única forma de levar sofrimento a muitos), e para piorar,
elas em sua maioria, de alguma forma, possuem argumentação ou religiosa ou financeira.
Não poderia ser onipotente, pois jamais, este “pseudo” ser
que se chamaria a si próprio de deus, poderia ferir as regras da lógica. Jamais
ele poderia criar um triangulo de 4 lados em um plano euclidiano e em espaço
euclidiano. Ele jamais poderia criar um triangulo cuja soma dos ângulos
internos fosse 180 graus em uma superfície não plana que fosse a superfície de
uma esfera de raio não infinito. Ele não poderia fazer a estátua do cristo
redentor caminhar até o maracanã, ou passear em um carro de passeio tradicional
mantendo todas as métricas atuais. Sua onipotência jamais será uma verdade
absoluta (como ele poderia criar uma pedra que nem ele pudesse levantar?).
E finalmente ele não poderia ser onipotente e onisciente,
pois sendo onisciente deveria (teria por obrigação) saber tudo que está para
acontecer, entretanto sendo onipotente poderia alterar esta previsão, assim é
impossível ser, na mesma medida, totalmente onipotente e totalmente onisciente,
ou ele saberia antecipadamente tudo o que vai acontecer (onisciente) e assim
perderia sua onipotência, pois que não poderia alterar aquele destino, ou ele é
onipotente, e pode a qualquer momento mudar tudo conforme lhe aprouver, e assim
ele nunca poderá ser onisciente, pois que o destino sempre poderá ser mudado.
Se ao morrer, hipoteticamente, eu viesse a encontrar algum
ser, uma coisa eu tenho a certeza, ele não seria um deus, na concepção da
palavra deus, e se este ser pudesse se chamar, a sí próprio de deus, poderia também
eu me chamar de odin.
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