Pode já ser tarde
Muitas vezes quando percebemos que a vida é frágil, que somos fatais, que a nossa vida se esvai constantemente por entre os dedos que não conseguem retê-la, e que o tempo passou, pode já ser tarde para dignificá-la, pode já ser tarde para reconstruí-la.
Quando percebemos que nos inebriamos apenas em gozar a vida, mas não bebemos sequer um gole de algum humano saber, que nos embriagamos despreocupados com o semelhante, com suas dores e suas necessidades, quando nos damos conta de que a nossa mais íntima parceira, aquela que nunca nos abandonou, a morte, parece estar cada vez mais perto, podemos perceber que aproveitamos a vida alheios aos semelhantes, e que de humanos exemplos e obras quase nada, ou nada, deixamos para a história, pode ser que já não haja mais tempo para construir algo de digno.
Alguns, neste caso, tenderão a pedir perdão para um deus que não existe, tentando diminuir sua frustração, outros farão promessas que em si só são também inertes. Mas poucos se lembrarão de que nunca é tarde para iniciar sua transformação, pelo bem da comunidade, nunca pela busca de um perdão que não existe, ou pela salvação que é mero fruto de desejos e de medos, e muito menos acreditando que um bem feito hoje possa apagar qualquer mal feito ontem. O que foi feito, já é eterna realidade, nada apagará, nada poderá esconder de você mesmo, e de quem a sofreu, toda e qualquer ação desumana, entretanto, independente do passado, podemos hoje, a qualquer momento, iniciarmos alguma transformação e, quem sabe, sem deixarmos de ter sido responsáveis pelos erros que cometemos, pois que o perdão não existe, consigamos ao irmos para o eterno infinito do nada, que possam se lembrar de nós, não somente pelo lado desumano que um dia podemos ter vivido, mas também por um novo lado, que ousamos iniciar a construir, que nos fez ser, por quanto tempo a vida ainda nos permitir, mais humanos, mais respeitadores, empáticos, sensíveis, e sociais. Volto a repetir que o perdão não existe como forma de eliminar a responsabilidade sobre qualquer mal que possamos ter feito, e mesmo que existisse (o perdão), não apagaria a dor, o mal, ou o sofrimento que direta ou indiretamente causamos aos outros. Entendo que o perdão como forma de eliminar nossos erros beira o desumano. Seria muito fácil. Vive-se egoisticamente uma vida, e por um simples perdão, toda a responsabilidade pelos erros é eliminada, somente mesmo crentes ingênuos, ou interessados em conquistar ingênuos, podem acreditar nisso.
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