Humanizar é transformar

Muitos acreditam, e talvez eu mesmo entre estes, que alcançaram um estado tal em que a humanidade que construiria seu humano ser já é capaz de falar por si mesma, ouso discordar porque se a humanidade em meu ser falasse, mesmo que apenas sussurrasse, que gaguejasse ao falar, ou mesmo que imperfeitamente construísse sua fala, eu não estaria perdido em meio a uma quase inação triste e desumana, pego por uma certa dormência em relação a tudo que aqui existe, frente a fome, a miséria, a exclusão, a exploração, frente também aos preconceitos, a arrogância, e as injustiças, e frente ao quase palpável tecido desumano e irracional que permeia nossa sociedade. Pensar e não agir, sentir e não se expor por alguma transformação não me retiram do lodo vicioso do ser eu mesmo e continuar como se nada pudesse eu fazer, ou como se no geral não tivesse eu também culpa pelo que aqui está. Somente fazer caridade não muda nada, primeiro porque a caridade mesmo sendo necessária como forma premente e urgente de minimizar alguma fome e sofrimento (por favor, eu não sou contra a caridade, acho que ela é necessária), ela em si nada muda, ela minimiza um problema que é estrutural, mas no fundo ela nada faz, sozinha, por transformar nossa sociedade em algo mais social, mais humana e mais justa. A caridade não é salvação alguma para os problemas sociais que nós mesmos, os ditos humanos, criamos e ajudamos a manter. A caridade, não obstante sua necessidade emergencial, deve vir acompanhada de uma postura de luta, de reivindicação, de cobrança, de transformação político-econômica, que tem, que necessita, e que deve primeiro passar por uma transformação de nós mesmos, que precisa de uma autoconsciência de que somos corresponsáveis pelo que aqui está, que é nosso papel nos expor por buscar uma verdadeira humanidade em nós mesmos e assim poder, de pouco em pouco que seja, ir transformando outras mentes e outros seres, e por fim, ir transformando a nossa sociedade, o estado, e toda estrutura político-econômica, na direção de um ambiente socialmente mais justo, humano e digno, onde todos, exatamente todos, possam exercer sua cidadania, e ajudar e participar da grande “revigoração” humana de nosso ser e de nossa sociedade.


Humanizar é transformar, é construir vias, passarelas, andaimes, é colocar em movimento a força motriz de um amor, de um respeito humano, e de uma sensibilidade humana, sempre permeada por um estado mental livre, crítico e racional, a serviço do maior bem possível, que é dignificar e humanizar a vida de todos e de qualquer um. Humanizar é, se for o caso, inicialmente dar muletas, amparar, e medicar, mas sem nunca e jamais perder de vista o foco que realmente importa que é o da inclusão social de todos, e da maximização do sentido humano.

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