Ética e moral
Ética e moral não são sinônimos. Moral reflete uma estrutura de convivência em sociedade, regras e normas que em geral são mantidas pela própria sociedade, com o pressuposto de facilitar o bom convívio em sociedade, mas que muitas vezes refletem os interesses de quem está no poder, seja político, econômico ou religioso. Moral, assim, é mais um respeito as práticas estabelecidas, e quem segue estas regras, é em geral uma pessoa moral, mas devemos ter cuidado com as regras em si, com quem as defende, e a quem interessam tais regras, pois que podem acabar sendo antiéticas para a própria dignidade do viver.
A moral é sempre fortemente influenciada pela cultura local, pelo tradicional, por costumes, hábitos e crenças. Assim, entra em cena a ética. A ética é mais filosófica, entre outras coisas a ética busca estudar, analisar e destrinchar os efeitos das práticas morais estabelecidas, com o foco maior na equidade social e no respeito ao direito e aos deveres de todos para com todos. Muitas vezes atos morais podem levar a desdobramentos não éticos, e atos não morais, ou mesmo considerados imorais, podem levar a efeitos éticos, desta forma é cabível que possamos agir de forma ética, entretanto de forma imoral, e o fazemos por que racionalmente pensamos e chegamos à conclusão crítica de que consideramos aquela regra moral específica errada, desumana, ultrapassada, ou que atente contra uma dignidade humana ou social.
Em uma sociedade equilibrada, é provável que a maioria dos preceitos morais estejam cobertos por conceitos éticos, mas não podemos fechar os olhos e acreditar cegamente nos ditames morais de qualquer sociedade, devemos racionalmente revê-los do ponto de vista ético, e sempre que necessário nos revoltarmos contra aqueles que ferem a ética humana e social. Algumas normas morais podem simplesmente estarem erradas, pois que já nasceram erradas, ou mesmo porque nasceram baseadas em preconceitos ou em interesses escusos, mas pode também ser que estejam ultrapassadas para a nova realidade do viver, mas é muito comum cometer o erro de achar que a moral seja absoluta, e ela não é, ela varia de local para local, de sociedade para sociedade, de tempo para tempo, e mesmo dentro de uma mesma sociedade pode variar de grupo de pessoas para grupo de pessoas, pois que a moral não nasce de alguma verdade absoluta, e sim busca criar normas (criadas por membros desta mesma sociedade) para facilitar teoricamente o bem viver coletivo. Desta forma preceitos morais bem estabelecidos, que em geral são coerentes com o viver em sociedade, devem ser pesados e analisados não contra o preceito em si, mas contra o alcance final de cada ato ou comportamento, exemplo clássico dos tradicionais não matar ou não mentir, que na maioria das vezes são coerentes, entretanto podem ser, sem problema ético algum, quebrados quando a causa de sua quebra implicar em salvaguardar mais dignidade para o maior número de pessoas possível pelo maior tempo possível, como: matar um terrorista que está prestes a matar crianças, ou matar um estuprador que está prestes a ferir um menor, ou mentir para salvar a vida de um inocente, ou mentir para não ferir sentimentos de uma mãe em um leito de dor. Esta relatividade não significa que tudo seja possível, é claro que não.
Muitos de nós, talvez a maioria, confunde ética e moral, como se fossem uma coisa única, ou mesmo sabendo que existem diferenças entre elas são incapazes de identifica-las, isto é agravado pelo uso errôneo do termo ética em temos como “ética médica” ou “ética de alguma profissão”, o que quase nada, ou nada, tem a ver com ética e sim com moral. O médico que pela “ética” médica não entrega um colega que cometeu um erro por descaso ou imperícia, não tem nada de ético, tem sim de antiético, pode estar até fazendo um ato moral perante a sua classe, que seja o de não entregar um colega, mas está agindo, na prática de forma antiética; um policial, delegado, ou soldado que em nome de “uma ética da sua profissão” não entrega seu par que acabou de torturar, maltratar ou abusar de alguém, mesmo que culpado, não está agindo de forma ética, e sim antiética, mas pode segundo conceitos morais de sua profissão ser bem visto. Estes exemplos, do ponto de vista éticos chegam as raias do absurdo, pois que deveriam ser no mínimo vistos como atos de cumplicidade criminosa, ou mesmo atos criminosos. O uso irresponsável do termo ética para ações corporativas, ou em pleno uso de “conceito de grupos”, leva a uma totalmente equivocada interpretação do sentido de ética. A ética é assim, muito superior a moral, e devemos buscar agir conforme a ética, mesmo que pareça imoral aos olhos de alguns, ou de boa parte de uma sociedade, pois a ética dita valores humanos e sociais, ela pensa o todo, e a moral vê de forma restritiva, visando segundo alguns conceitos, muitos deles históricos, nortear o relacionamento na sociedade.
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Sou um ateu racional e um livre pensador, ou melhor, eu sou um ateu que tenta ser (que se compromete a ser) racional e livre pensador.
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