Pais biológicos, uma mera fatalidade quando do ponto de vista de qualquer filho ou filha.
Eu sei que este é um assunto complexo pois que envolve muito de certo tabu e preconceito, em especial religioso, de que devemos amar e respeitar nossos pais. Ousarei incluir alguns conceitos que entendo desobrigar por princípio os filhos de amarem e respeitarem seus pais (como pais, pois que como humanos eles merecem o respeito natural que um ser humano merece, quando merece), pelo menos por princípio, ou por obrigação. Por favor, não quero dizer que devamos odiar ou mesmo ser indiferentes aos nossos pais, apenas que eles sejam respeitados e amados, não pela posição formal de serem pais, mas pelo que como pessoas possam significar para nós e para a sociedade. Como já comentado no título, um pai e uma mãe, do ponto de vista de um filho, é uma fatalidade não desejada e não escolhida, uma espécie de singularidade que lhes outorga um pai e uma mãe biológica. Exatamente como meus filhos não me escolheram como pai, também nenhum filho ou filha teve esta possibilidade, e ao nascerem se veem outorgados a terem pais, conhecidos ou não, decorrente de uma relação sexual ou por inseminação, desejados ou não. Cada filho e filha possui um pai e uma mãe biológica que não tiveram como escolher, sequer se queriam nascer (mesmo que a clonagem humana já fosse uma possibilidade normal, o bebê nascido por clonagem, geneticamente, possuiria um pai e uma mãe, e de quebra ganharia ainda, uma mãe que o gestou, o que apenas incluiria mais razões na minha teoria de que nenhum filho ou filha por definição e princípio deve amar e respeitar cegamente seus pais, simplesmente porque são seus pais)(o mesmo conceito de desobrigação de amar e respeitar seus pais, é valido também para pais adotivos).
Exatamente porque nenhum filho ou filha escolheu nascer, e tão pouco escolheu seus pais, o amor e o respeito de todo e qualquer filho, por seus pais (biológicos ou adotivos), deve ser fruto do como estes pais participaram do desenvolvimento de seus filhos, quão compromissados foram, quão responsáveis se sentiam e se comportaram pelo desenvolvimento natural do filho. Não espero, e nem quero, que meus filhos me amem por qualquer que seja a razão, que não seja a de tentei, me esforcei, me comprometi, e me responsabilizei pelo seu desenvolvimento físico, mental, cultural, e emocional, e que jamais me amem ou respeitem porque eu seja simplesmente seu pai, se assim for, eu errei e muito como pai e responsável. Meus filhos não me devem absolutamente nada, eu os quis, fui eu quem ganhou com eles, fui eu que aprendi, que senti coisas que nunca seriam possíveis sentir sem eles, eu é que eternamente serei devedor a eles, eles não são, e nunca serão, meu fundo de pensão futuro, não investi neles nada para mim, e sim tudo para eles, para que pudessem viver suas vidas, para que pudessem construir seu lado humano e social. O amor e o respeito pelos pais, exatamente como o amor e respeito por quem quer que seja, deve ser fruto de uma construção diária, e de algumas desconstruções do que éramos e do que queríamos ser, sem obrigações, mas por amor aos filhos. Amar e respeitar seus pais, como norma, como preceito, como dogma, ou como diretriz cega, é insustentável, por qualquer que seja o princípio humano. Amar e respeitar seus pais deve decorrer do relacionamento compromissado e simbiótico da relação natural, humana, amorosa, e racional, de pais e filhos. Meus filhos, quaisquer filhos, vocês não possuem nenhuma obrigação de amar e respeitar seus pais (enquanto pais), se eles não construíram este laço de amor e respeito.
No tocante a honrar pai e mãe, também discordo que deva ser alguma meta, eu entendo que pode ser uma decorrência natural, pois que cada filho deve crescer entendendo que como um humano social, ele deve honrar a própria humanidade, honrar toda e qualquer vida, a natureza, e o social, deve buscar construir um amor, uma racionalidade e uma sensibilidade humana, e se com isso seu pai e sua mãe se sentirem honrados que bom, se não, que pena, talvez o pai ou a mãe é que não mereçam o filho que virou adulto.
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