Vontade
Parte somos instintos e em parte somos vontade. Parte somos construídos e em parte construímos. Parte somos vontade instintiva, parte somos instintos sem vontade e em parte somos vontade construída, seja ela por nós mesmos, ou de fora para dentro. Parte somos em parte e em parte nos achamos plenos, mas o que importa é que sempre seremos plenos, completo e total em nós mesmos, não importando muito para a nossa vida mental, subjetiva e pessoal, como em parte chegamos até aqui, posto que ela, a vida que realizamos, os seres que somos, o mental e o subjetivo que nos faz ser, a pequena parte consciente e a grande parte inconsciente do que somos, é sempre o resultado da emergência presente do complexo processo funcional de nosso circuito mental, independente se este mesmo processo tem sua maior parte operando coerentemente, ou se parte dele falha por qualquer razão, o que importa para a emergência do que somos, é sempre resultado pleno deste funcionamento, mesmo que em parte possa este circuito estar incompleto, temporária ou definitivamente, em sua operacionalidade.
A vontade? Ahhhhh, como em parte, até nossa vontade pode ser induzida, pode ser catequisada, pode ser doutrinada, pode ser construída de fora para dentro, ocupando algum lugar mental que continua vazio de nós, apesar de ser mesmo esta vontade, depois de programada, parte real do todo que somos, mas que talvez não seja parte, ou não devesse ser parte, daquele que deveríamos ser, do que poderíamos realmente ser, do que realmente gostaríamos de ser, ou do que devêssemos tentar ser.
O instinto? Ahhhhh, como ele é belo, natural, imperfeito muitas vezes, sim, claro, porque nada em nós é perfeito, ou foi evoluído para ser perfeito, mas com certeza é natural, e foi parte de nós em nossa longa jornada de sobrevivência por milhões e milhões de anos, alguns de nossos mais imperceptíveis instintos, vitais a nossa sobrevivência, podem ter nos acompanhado por mais de centenas de milhões de anos, sendo parte natural e plena daquilo que muitos chamam de nossa porção reptiliana do cérebro.
A evolução nos lançou em uma fase algo consciente, apenas em parte, e longe daquela parte tão decantada da consciência plena do ser e do que queremos ser, aliada a uma memória autobiográfica, a alguma inteligência, e a uma capacidade de interagir mentalmente e empaticamente com outros seres vivos, humanos ou não, capazes assim de ler, em parte, e de em contraparte ter nossa mente também em parte lida, uns pelos outros. Assim a vontade, natural porque nossa, e presente no momento presente em que a temos, deve ter um valor e uma atenção mais trabalhada. A vontade é justa? A vontade é possível? A vontade afeta ou não a terceiros? A vontade é digna? A vontade soma? A vontade pode me destruir? A vontade pode ajudar a estragar a natureza? A vontade em si é coerente com um ser natural, social e humano? Toda vontade carrega muito de nós mesmos. Podemos aprender sobre nós, dando um pouco mais de atenção as nossas vontades, em especial aquelas que surgem natural e espontaneamente, do nada, quase que como assombrações que nos atiçam pela vontade que a vontade tem. Pensar, pensar, pensar, refletir, analisar criticamente, racionalizar, e pensar e pensar de novo. Cada vontade pode servir de força, ou de tentação, pode servir de alavanca para o nosso progresso mental, social e natural, ou como empuxo para alguma destruição de nossa humanidade, de nossa sensibilidade, e de nossa harmonia social. Agora toda vontade que passada pelo crivo humano, social e natural de nossa racionalidade amorosa deve ser valorada, trabalhada e posta em ousadia de construção, mas mesmo esta vontade, como qualquer vontade, deve ser também ela, pesada e desconstruída a luz de nossos naturais instintos, para que seja a posterior reconstruída como algo real nosso, como algo que nos faz ser mais quem somos, ou como algo que nos força a uma constante transformação do que somos, pois que a plasticidade de nosso circuito cerebral assim o possibilita.
Sinto a tentação de dizer que cabe à vontade se sobrepor ao instinto para que permitisse a realização de nossa humanidade. Mas em parte, meu ceticismo me força a duvidar desta assertiva como plena de verdade. Se em parte concordo com ela, em parte, e no fundo, fugindo a tentação inicial de dar à vontade um valor maior que ao instinto, sinto que é, e que foi, o instinto quem nos trouxe até aqui, ele é natural, a ele deve ser dado muito crédito (e se sou humano, o sou pleno de meus instintos, eles me fazem ser humano, animal, e natural), e assim acabo por fugir daquela assertiva, que em muitos casos é verdadeira, para defender uma posição de que instinto e vontade devem ser continuamente valorados, e serem trabalhados de forma crítica um a favor do outro, um não contra o outro, mas um pelo outro, um com o outro, um no outro. Vontade e instinto não podem ser inimigos, não devem se destruir um ao outro, devem se somar, devem refletir luz um no outro, devem simbioticamente agirem um com o outro e o seu resultado final sempre será maior que a simples soma ou em muitos casos simples subtração de um pelo outro. O atrito positivo entre vontade e instinto é fonte contínua de crescimento.
Que vontade que eu assim pudesse plenamente ou em maior parte ser e agir...
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Sou um ateu racional e um livre pensador, ou melhor, eu sou um ateu que tenta ser (que se compromete a ser) racional e livre pensador.
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