Aqui estou eu
Aqui estou.
Praticamente perdido na cegueira de um ser que não consigo ser.
Praticamente entregue por omissão a uma existência que abomino.
Como posso aceitar?
Aqui estou.
Reflexo de mim mesmo.
Antígeno de mim mesmo.
Simétrico de mim mesmo.
Muito mais diluído de mim mesmo do que no fundo me imagino ser.
Constructo desprezível e absurdo daquilo que não deveria ser.
Mera representação sem conteúdo, de um sonho irreal, de que posso ser humano sem me envolver em responsabilidades com os demais. Mera imagem sem sentido, de uma ilusão, de que posso me humanizar sem compromisso primeiro com a vida e com a dignificação do viver, de todo e qualquer viver. Mero rascunho sem substância, de uma fantasia, de que posso ser humano abrindo mão do respeito à todos os outros e à natureza como sustentáculo natural de tudo que há e do que podemos ser.
É fácil ser eu, quando ser este eu é ser qualquer um ou qualquer coisa, disperso e alienado do que necessitaria eu ser.
É difícil ser eu, quando este eu deveria ser alguém que verdadeiramente ame, que verdadeiramente lute pela valorização social de todos, que verdadeiramente se exponha pela humanidade de si mesmo, em uma humanidade que deve ser de todos.
É simples ser eu, se este eu que venha a ser não seja nada além de um eu rasteiro, disforme, opaco e sem sensibilidade humana.
É complexo ser eu, quando ser este eu é ser sinônimo de ser responsável e ativista, em nome de um amor racional construído herculeamente em nome de um social digno e de um pessoal humano.
Aqui estou eu.
Sendo um vazio de humanidade.
Sendo um qualquer que nada é, ou melhor, sendo um qualquer que de humano quase nada é.
Mas aqui estou eu.
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