Por mais que eu procure me conhecer

Por mais que eu procure me encontrar, me conhecer ou me revelar, buscando descobrir aquele que realmente sou ou aquilo que realmente me move, sinto-me arredio de mim mesmo, sinto-me um tanto perdido nos labirintos dos muitos que sou, sinto-me embaraçado nas vielas dos mitos e crenças que não desejo mas me acompanham, sinto-me atolado na areia movediça de meu inconsciente, sinto-me traído pela convicção de que sou consciente, quando no fundo borbulha em mim latentes processos desconhecidos de minha capacidade de gerenciamento mental ou de prospecção consciente. Como desejaria realmente conhecer “todos” os meus valores, “tudo” que de alguma forma me é sagrado (nunca no sentido místico religioso, mas no sentido daquilo que realmente muito valoro positivamente e que poderia chegar a dar minha vida por isto), “todas” as minhas dúvidas que no mundo abissal de meu inconsciente de alguma forma me refreiam a ousadia de me doar por uma real transformação de mim mesmo!

Invejo a ingenuidade daqueles que se acham totalmente conscientes de seu viver, invejo a simplicidade dos que se veem cônscios de si mesmos, na simplicidade daqueles de bom coração que se imaginam donos cientes do gerenciamento de si próprios, entretanto, pensando melhor, por outro lado, não invejo a falácia que eles vivem. Não consigo (e no fundo não quero) a “pureza” da alma dos que se acham conhecedores profundos de suas vontades e de suas decisões (a pureza que busco é um pouco mais coletiva e social), não possuo a “virtude” ingênua dos que não sabendo como funciona realmente os porões de sua existência mental e de suas realizações pessoais se julgam capazes de conhecê-las por completo, acreditando saberem quem realmente são, mas em verdade nunca saberão plenamente, e de minha parte, a virtude que almejo é a de sempre duvidar de mim mesmo, e de alguma forma sempre estar disponível para ser um ente participativo na construção, desconstrução e transformação de nossa sociedade, conforme for a necessidade humana, social e natural.

Infelizmente o muito pouco que me conheço, mal cria ranhura superficial na profundeza do que sou e do como opero mentalmente. Sou múltiplo, sou mutável, sou complexo, sou transparente a mim mesmo (no sentido de que não posso realmente me ver e não no sentido de que a transparência permitiria me ver em meu íntimo), sou parte genética, sou parte fenótipo, sou parte o que eu creio que queira ser, posto que talvez no fundo até a parte que eu queira ser me seja dada por outorga pelos muitos que me compõem. Sou a vida que levo, sou a alimentação que ingiro, sou o que penso, o que acredito, o que ajo, sou a medicação, as drogas e o álcool que consumo, sou os sustos que levo, o medo que sinto, o amor que me cerca, o abandono que possa ter experimentado, sou o que aprendi, o que experimentei, o que sofri, e o que fui de feliz, ou de infeliz. Sou enfim muito do que vivi, sou único pelo que nasci e pelo que experimentei, mas na média, sou parecido, pelo menos em essência da possibilidade, com todos os outros.


O que me choca não é a ingenuidade, mas sim a soberba e a arrogância de alguns que se acham senhores absolutos de si próprios, e capazes de legislar plenamente sobre a capacidade mental, pessoal, intelectual, emocional e sentimental da realização do seu ser, como se únicos fossem, e que de forma insensível se arvoram de forma arrogante a acreditarem saber exatamente o que cada um dos outros irmãos em espécie sente, merece ou necessita. É muito triste como alguns não percebem a armadilha em que caem, se fazendo maiores e melhores do que podem ser, tropeçando continuamente nas fantasias que criam para si, e se sentindo uma elite falaciosamente humana, de minha parte, me sinto impelido, quase obrigado, a fazer o meu exercício de humildade por sequer não conseguir me entender por completo, quanto mais tentar conhecer plenamente quem quer que seja, e assim buscar uma postura mais compromissada, participativa, ativa, e mediadora, na “educação e construção” de minha humanidade.


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Sou um ateu racional e um livre pensador, ou melhor, eu sou um ateu que tenta ser (que se compromete a ser) racional e livre pensador.

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