Onde foi que eu errei
Onde foi que eu errei?
Entendo que mesmo que eu desconhecesse todos os meus erros, seria impossível não os ter, deveria tê-los vários. Não apenas erros que direta ou indiretamente afetassem somente a mim, porém o que é pior, deveria ter erros que afetassem a terceiros. Errar acaba sendo algo bastante comum para os humanos, é quase inevitável para aqueles que ousam se expor tentando ou fazendo. Não estou dizendo que errar seja bom, ou que deva ser aceitável errar. Apenas digo que é inevitável que erremos, e se assim é, devemos estar preparados para tentar aprender com nossas falhas, entendendo-as, buscando perceber como chegamos a elas, e como nos deixamos trair por elas, evitando recair em falhas repetidas, e tentando perceber, com nosso aprendizado, quando estamos próximo a novas oportunidades de errar, e como podemos agir quando se nos apresentarem de novo. Devemos assim, cada vez mais com o cuidado necessário, nos cuidarmos para não cairmos em erros por displicência, por descaso, por incompetência, por omissão, por interesses, ou por simples preguiça de pensar e de bem agir. Devemos sempre ter a coragem e a transparência de assumir nossos erros, sem buscar transferi-los a terceiros, e temos a obrigação de estarmos preparados para pagar por nossos erros, dentro da legalidade, e com os atenuantes cabíveis (ou em alguns casos com todos os agravantes possíveis).
Infelizmente para mim, apesar de possuir alguma certeza que devo ter erros que desconheça, existem outros que tenho consciência. Erros mínimos como alguma preguiça ou pequenas mentiras, mas também erros vergonhosos, como o de não me revoltar a altura do que a miséria, a exploração, e o abandono social, afetem uma infinidade de irmãos em espécie, além também de alguma arrogância mental.
Muito me importo com a vida e com toda a sua relação com o como vivemos todos nós, mas me falta alguma louca lucidez de partir para a ofensiva, na franca e aberta defesa e na luta pelos menos favorecidos. Falta-me também alguma maior humildade, empatia, e altruísmo, contra a soberba de que possa me achar melhor do que qualquer outro irmão, e principalmente contra a arrogância de não saber me colocar no lugar dos outros, principalmente quando os outros são os abandonados, os excluídos, os miseráveis, os doentes, os sujos, os explorados, e os desamparados, como se estes não fossem tão humanos quanto qualquer outro, ou se fossem algum tipo de escória, de resto, e de cinzas, quando em verdade, a escória humana está do outro lado, está do lado daqueles que tudo possuindo, tendo todas as oportunidades que a vida possa dar para alguém, se esquecem dos irmãos e no extremo maior enriquecem à custa destes mesmos irmãos.
Onde foi que eu errei? Muitas vezes. Errei quando acreditei que viver era fácil, que mentir ajudaria, e que era independente. Errei cada vez que acreditei que me conhecia por completo. Errei cada vez que assumi que tinha controle sobre mim mesmo e sobre os fatos que me cercam e que me afetam. Errei cada vez que imaginei que era consciente de cada um e de todos os meus atos e pensamentos. Errei cada vez que me omiti. Errei cada vez que me fiz arrogante, cada vez que deixei a vaidade dominar minhas atitudes. Errei cada vez que me fiz prepotente. Errei cada vez que não consegui me ver nos semelhantes. Errei cada vez que transferi culpa. Errei cada vez que não ousei de corpo e alma lutar pela igualdade, pela inclusão social, pela dignidade humana universal e pela natureza. Errei cada vez que me fiz dissimulado quando me interessava fazer vistas grossas. Errei sempre que dei mais valor aos meus do que aos nossos. Errei cada vez que valorizei mais a posse do que a distribuição. Errei cada vez que achei que bastava somente a caridade, e acreditando que ao faze-la me veria livre para poder continuar tendo o que faltava para os outros. Errei cada vez que mesmo fazendo caridade o fiz simplesmente com o que me sobrava, com aquilo que não mais me valia muita coisa, ou com o que estava para me desfazer, me utilizando da caridade como uma forma de me valorar junto a mim mesmo. Errei cada vez que ajudando alguém, não o fiz somente pela ajuda e tive algum tipo, qualquer tipo, de interesses nesta ajuda, ou quis parecer bonzinho, ou tive o cuidado de praticar a ajuda aos olhos dos demais, e não no escondido do dia a dia. Errei cada vez que humilhei algum irmão. Errei cada vez que não soube valorizar a amizade e a tratei como algo comum e não como algo sublime. Errei quando perdi tempo de meu viver, não me reconstruindo e não construindo um novo ser a cada novo instante presente. Errei quando sofri por esperança, por desejos ou por posses, no medo de perder, de não alcançar ou de não conseguir. Errei sempre que alimentei algum ódio ou rancor por quem quer que seja. Errei quando não me fiz simpático e fiz da antipatia uma forma de ferir alguém. Errei quando me vangloriei por algo que não era totalmente meu, uma ideia, um trabalho, um alcance ou mesmo uma descoberta. Errei quando trabalhando em Equipe não soube dar o devido valor a todos da Equipe, fingindo e brincando ser melhor que os outros. Errei sempre que não soube me fazer humano, sempre que não me envolvi realmente como um ser social e sempre que não amei a vida como a essência maior do que merece ser amado e respeitado. Errei sempre que me perdi ou me separei da dignidade ética que poderia fazer a diferença como ser humano. Errei sempre que abri mão do direito e do dever de fazer o que devo, para fazer o que queria. Errei cada vez que busquei não a realidade do mundo, mas tentei alinhar este mundo à pseudo realidade que desejava ser verdadeira. Errei sempre que não busquei e defendi com unhas e dentes a real verdade e me agarrei a conceitos que gostaria fossem verdadeiros ou a verdades e que desejasse serem verdadeiras. Errei por ser humano, e sou humano simplesmente porque filho de pais humanos, netos de avos humanos e assim por diante, sendo desta forma filho de “errados”, neto de “errados” e por aí a fora, mas em momento algum isto pode ser motivo para justificar, minimizar ou defender meus erros, isto não pode ser motivo para me esconder por detrás de meus erros, e se for o caso devo responder por eles. Devo ter errado quase infinitas vezes que neste texto não haveria espaço para identificá-los todos, mas o que me importa agora é saber que tenho a obrigação moral e humana de trabalhar para cada vez menos errar. Algo que me incomoda é perceber que sendo o ato de errar algo comum à humanidade, existem muitos irmãos em espécie que não percebem seus erros e outros ainda que mesmo percebendo seus erros, não possuem a humildade de assumi-los, e no caso extremo, me incomoda muito perceber que existem irmãos em espécie que acreditam seriamente que não erram.
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Sou um ateu racional e um livre pensador, ou melhor, eu sou um ateu que tenta ser (que se compromete a ser) racional e livre pensador.
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