Jamais abandonarei todas as coisas de crianças

Desde que nascemos já temos um razoável ferramental cerebral a nos moldar e a nos facilitar o entendimento do mundo externo, além de um constante amadurecimento e da contínua formatação e reformatação de novo ferramental mental. Não somos, ao nascer, tábula rasa como muitos ainda hoje acreditam, não somos folha totalmente em branco, onde tudo lhe será escrito apenas após o nascer, assim, uma velha máxima que ouvi desde criança, a de que “nascemos bons e a sociedade nos corrompe” não é uma verdade absoluta, não somente porque já nascemos com algumas tendências, e mais ainda porque definir bons e maus, íntegros e corrompidos, saindo de seus extremos não é tão fácil assim. Por favor, não coloquem em minhas palavras o sentido de que eu não entendo que sejamos moldáveis, sim, eu muito especialmente acredito que somos moldáveis, nosso circuito cerebral é plástico e pode ser moldável, mas nosso circuito existe, e dependendo do caso, não é fácil mudar este circuito para “melhor” (em alguns talvez seja até eternamente impossível), seja isto lá o que for, e basta que vejamos, em seu extremo, as “doenças” e má formações mentais, e em situações tristes, os reflexos de acidentes cerebrais. Assim podemos considerar que nos vinte e quatro primeiros meses de vida ocorre um “desenvolvimento” cerebral absurdamente grande, entendo que de longe seja a maior obra de ajuste “computacional” conhecida, impossível de imaginar mesmo na mais moderna tecnologia da informação. Já nascemos sendo muita coisa e carregaremos estas coisas (ou parte delas) por toda a nossa vida, mesmo que adormecidas.

Existem assertivas que repetimos, e que não refletem mais a pura e plena verdade neurológica: “Quando era criança, pensava como criança, agia como criança, sentia como criança e vivia como criança, tão logo tornei-me um adulto abandonei as coisas de crianças” pode não ser exatamente cópia fiel de coríntios 13:11, mas reflete o seu conteúdo. Entendo que a proposição em si carrega um erro recorrente e muito comum, e assim não é, e nem pode ser, plena e totalmente verdadeira, mas entendo que até podemos aproveitar o seu sentido de uma forma mais geral e menos totalitária, principalmente se trocarmos o “abandonei as coisas de crianças”, para “passei a agir de forma mais adulta”. Ela, no sentido original, é uma frase bonita mas entendo que peca hoje pela falácia da simplicidade. O que a neurociência moderna nos tem mostrado é que mesmo quando adultos, jamais abandonamos “todas” as coisas mentais de crianças. Mantemos eternamente em nosso circuito cerebral, registros claros e programados daqueles sentimentos, daquela forma de agir, de pensar e de entender o mundo exterior.


Por mais que a cultura, a instrução, a sociedade, as experiências, e a realização do viver criem novas ligações neuronais, reforcem ou enfraqueçam outras, e até mesmo desligue outras mais, e assim abramos e/ou modifiquemos o leque de ferramental do cérebro, dando-lhe outras formas de atuar, muitos daqueles programas iniciais, quer sejam de origem genética, quer tenham sido aprendidos enquanto bebês e crianças (pelo menos vários deles) nos acompanharão para todo o sempre, e outros mais nos acompanharão com algumas variações.

Tristes acidentes cerebrais nos têm trazido estas provas. Ao inutilizar partes do cérebro que nos tornou pensadores adultos, traz de volta o pensar, o sentir e o experimentar do mundo como crianças. Mesmo estando longe de ser a mesma coisa, de ter o mesmo sentido, quem já não ouviu que ao envelhecermos voltamos a ser e a nos comportar como crianças. Isto não é bom e nem é ruim, é apenas natural, nosso cérebro e dele decorrente nossa mente manterá, mesmo que escondido ou adormecido, ou mesmo subutilizado aquilo (ou parte daquilo) de mental e cerebral que tínhamos em crianças.

Polêmico? Talvez. Mas quem foi que falou que eu não sou, ou não queira ser, polêmico. Pelo menos, se você até aqui chegou, pode agora por si só, de forma honesta e sincera, pensar, refletir, pesquisar, criticar, e racionalizar por si só. 


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Sou um ateu racional e um livre pensador, ou melhor, eu sou um ateu que tenta ser (que se compromete a ser) racional e livre pensador.

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