Bons costumes
Mesmo que não aceitemos ou não percebamos, somos, também, e o que é pior, tão bem muitas vezes, culturalmente moldados em relação a muitas coisas, e em especial a alguns “costumes” sociais, preferências, ou crenças, de nossa época, lugar e grupo social. Não gosto da definição de que costumes coletivos sejam por definição “bons costumes”, entendo-os tão somente como costumes socialmente aceitos. Entendo também que cada um de nós possui um mapeamento mental de costumes e comportamentos para os quais acabamos aplicando qualificações de bons costumes e bons comportamentos, estejam estes totalmente alinhados, ou não, ao estabelecido, em média, pela sociedade. Como somos seres complexos mentalmente, sendo múltiplos e “mutáveis” em nossa essência mental, a cada instante já somos um pouco diferentes do que fomos um pouco antes. Neste teatro dinâmico da existência, a sociedade, as mídias, os parentes, as lendas, nossas crenças, nossa racionalização, e muitas outras “coisas”, acabam sempre sendo agentes de transformação em nós mesmos. Na realidade, entendo que ocorram sempre interações mútuas, onde todos atuam como agentes de mudança e são ao mesmo tempo, em contrapartida, objetos mutantes, horas de forma ativa, outros momentos de forma passiva, uns sobre os outros.
Desta forma, amigos ou parceiros mais próximos, aqueles com quem dividimos maiores relacionamentos, maiores confianças, maiores intimidades, ou mesmo maiores afinidades, acabam por naturalmente facilitar e fermentar nosso processo de transformação mental, e assim eles participam, pelo bem ou pelo mal, solidificando comportamentos ou alterando-os, e isto pode por um lado ser bom, nos aflorando ou reforçando características humanas e sociais, ou podem em contrapartida ajudar na corrosão ou na corrupção de nossos princípios, costumes e comportamentos.
Escolher nossos amigos é importante, se não por outros motivos, pelo menos pela força natural que eles possuem em interagir com nosso complexo e mutável ser mental.
Muito se repete que as más companhias corrompem os bons costumes. Concordo, mas com especial ceticismo sobre o que a maioria quer dizer com bons costumes, em especial se definirmos como bons costumes, aqueles praticados ou repetidos simplesmente sem maiores racionalizações, porque a sociedade e os poderes estabelecidos assim os definam como bons costumes, aqueles sobre o qual interesses “muitas vezes mal-intencionados” tentam reforçar como bons costumes, simplesmente porque cobrem algum interesse. Não tenho maiores afinidades com o termo bons costumes, talvez fortemente influenciado pela palavra costumes, me soa não natural, mas se definirmos como bons costumes aqueles que possuem por razão e qualidade maior, dar vida, luz, reverberação e brilho a dignidade humana e social, tendo como maior marca a elevação e a maximização da felicidade social, por um maior número de pessoas possível, por um maior espaço geográfico possível, e por uma maior faixa temporal possível, concordo com o termo.
Más companhias devem ser evitadas, quando possível, entretanto tendo em mente as más companhias como aquelas que desonram e maculam a dignidade humana e social, e não as más companhias como aquelas que não interessam ao sistema como um todo. Quando não for possível evitá-las, necessitamos de um maior cuidado e uma maior consciência, para evitar que permitamos, mínimas que sejam, fraturas ou trincas em nossos princípios humanos e sociais.
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