A raiva

Eu tendo a ser uma pessoa que tem bom relacionamento até mesmo com sentimentos que desgosto, como tristeza, dor, frustração, vergonha, solidão, medos, dúvidas, desconhecimento, tendo a nada esperar da vida, sou um desesperançoso, mas a raiva, ahhh a raiva, este sentimento e suas emoções envolvidas me são muito sofridas. Não obstante o momento de explosão, muitas vezes irracional, onde emoção, sentidos, hormônios, e porque não a própria mente, se revoltam de forma explosiva contra algo, se tomando a si mesmo de alucinada reação, onde naquele momento alguma cegueira e impotência de si mesmo se apoderam da gente, o instante depois, o momento do constante porvir, me derruba fortemente, faz-me sentir um verme, um ser sem causa aparente de ser, um medonho reflexo de nada do que defendo. Longe de ser perfeito, busco tentar ser coerente, e no caso da raiva, vejo toda minha coerência sendo lançada no esgoto, vejo todo e qualquer desejo de comprometimento sendo pervertido, vendo toda e qualquer luta por um estado humilde e humano sendo varrido para a lama dos maus sentidos, das sujas emoções, das desumanidades e da insensibilidade humana. A raiva me destrói, não na hora, onde nos perdemos de nós mesmos, mas no depois, me faz muito mal, acaba com meu ser e parece que de uma única bastonada põe fim aquela construção que venho imperfeitamente tentado construir de mim, para o mundo. Como ter raiva de alguém, de alguma ideia, de algum conceito, de alguma instituição ou de alguma coisa? Somente porque deva tê-la ainda em mim, raiva de mim mesmo, e isto é realmente muito decepcionante para mim. A raiva corrompe pensamentos, “enlamaceia” conceitos, distorce a realidade, apodrece verdades, e acaba com a humanidade, simplesmente porque tamanha força destruidora brota, infiltra, racha, dissolve, e destrói o que me é mais valoroso, a humanidade, o valor de ser ou de buscar ser um ser humano, sendo um ser social e natural. Passei a noite acordado, refletindo, buscando abstrair aquele truculento e nojento sentido, sentimento, emoção e pensamento de raiva. A raiva me incomoda tanto, que me faz ter vontade de sumir, queria realmente, quando mesmo que minimamente tomo consciência do desastre que a raiva causa nos homens, e em especial em mim, sumir, desaparecer, porque a raiva é algo pessoal, que pode contaminar os outros, mas que é de natureza, incidência e sensação unicamente pessoal, e sumir acabaria de vez com este desastre. Mas por outro lado amo profundamente e verdadeiramente a vida, biológica, mental e sua realização do viver, e isto me dá “contraforça” de tentar reagir. Mais ainda, sem desejar passar responsabilidades a ninguém, enquanto acreditar, certo ou errado, que meus filhos têm o que respeitar e gostar do que sou, do que faço, do que penso, do como vivo, isto reforça sobremaneira minha vontade de continuar vivendo e lutando, não somente por eles, mas também com eles, por um mundo socialmente mais justo, humanamente mais sensível e naturalmente mais respeitado. Quando penso e sinto que esposa e amigos, e em alguns casos até mesmo conhecidos de alguma forma sentem ou podem sentir certa afinidade com meus ideais, mesmo que de forma discordante em relação a algumas realidades, isto me faz um pouco mais forte, não a força prepotente, vaidosa ou presunçosa de que seja eu algo importante (não valho e não posso valer pelas ideias, e sim pelas ações, ou pela força de deposito em tentar agir), mas a força que, espero eu, me ajuda a caminhar, a constantemente estar disposto a rever meus conceitos e a, em especial, continuar encontrando forças para amortecer também a raiva e superá-la, tentando relega-la a pouco mais que algo que devo trabalhar como um estado de ser, a ser mais do que evitado, a ser desconstruído.A raiva, sim, ela é destruidora, e me ofende na raiz do que sou e do que gostaria de ser, mas resta-me ainda forças para tentar minimizá-la, pois que parece que extirpá-la é algo impossível... 




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Sou um ateu racional e um livre pensador, ou melhor, eu sou um ateu que tenta ser (que se compromete a ser) racional e livre pensador.

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