Presunção de ser importante
Ao longo de minha juventude, e mesmo algum tempo depois, muitas vezes olhei o universo como se o conhecesse, e como se ele existisse com algum propósito, e eu com certeza seria parte deste propósito, e dentro deste universo imaginava o mundo como se ele existisse com o propósito de me servir enquanto realizava o meu viver. Quanta vaidade imaginar que participamos do mundo como se necessário fossemos para a sua realização, e quanta ignorância imaginar que o universo depende de nós, na prática, o universo sequer precisa de nosso mundo, nossa terra, muito menos precisa ou sequer toma “conhecimento” de nossa existência.
A realidade do universo me inclui, é verdade, mas na prática, o efeito que tenho sobre o universo é infinitesimal, e que o limite da realidade deste universo quando tende à totalidade do que ele é, implica que praticamente não tenho instituto de ação real sobre este todo do universo. O nosso mundo é real, praticamente eterno segundo nosso tempo de vida, e eu apenas e tão somente sou um ocaso desta existência, e de novo, tanto o universo quanto o mundo viverão mesmo quando eu me for, e infelizmente eu não viverei se o nosso mundo se for. Assim, não tenho maior importância para o mundo, mas em contrapartida o mundo possui total importância para mim, sem ele não poderia existir.
Minha vida depende total e absolutamente do mundo e da realidade imanente do mesmo, agora o mundo existiria em sua excelência, força e beleza, mesmo que eu não existisse. Não tenho maior importância para o mundo. No caso extremo, poderia eu até deflagrar uma guerra nuclear, acabar com toda a vida animal e vegetal, mas mesmo assim, o mundo, nosso planeta, continuará sua jornada, e talvez em algum tempo a dinâmica da vida poderá repovoar o planeta. Com o avanço da tecnologia, pode ser que cheguemos a algum ponto em que alguém possa realmente destruir todo o planeta, mas mesmo assim, eu entendo que o “importante” para o mundo, não sou eu, mas sim o poder e a tecnologia que, esta sim, pode destruir nosso mundo. Eu sei que procede alguma discussão, mas de qualquer forma o planeta continua não sendo meu, ele não existe para mim, e não tenho posse sobre ele.
Inversamente, sou ou posso ser importante para o envolvimento social, para a realização viva de nossa sociedade. E no mínimo, se soube ser o mínimo humano, talvez existam pessoas para as quais eu tenha alguma importância. O mais triste disto tudo é que, em uma existência cuja probabilidade beirou o improvável, posso ter passado por este mundo e não ter aproveitado esta única passagem para criar laços humanos com minha existência social, e assim não ter deixado lembranças boas em ninguém. Posso assim passar por aqui como um quase zero, sem maior importância para ninguém.
Muitas vezes olhei para a realidade do mundo com a prepotência daqueles que se acham acima da própria realidade, e que acreditam que o mundo exista tão somente para nosso benefício e para nosso bel prazer, que tenho o direito de abusar dele, pois ele seria tão somente uma espécie de pano de fundo para o passar triunfal de seres arrogantes como o que já fui. Quanta prepotência, quanta irresponsabilidade, quanta ignorância, como alguém pode ainda ser assim. Conforme crescia em conhecimentos, em humanidade, logo percebi que nada somos de importante, e que se algo é importante, é a natureza, é o natural, é o real, e destes o surgimento da vida como essência de seu próprio ser.
Agora olho para o mundo com olhos de respeito e humildade. Sinto-o como meu lar, meu mundo no sentido maior de que sem ele eu aqui não poderia estar, e que se eu posso estar em algum lugar, é aqui que eu posso estar, não existindo o depois, não existindo segunda chance, a natureza, o natural e o real são mais do que meus guias, são meu próprio ser. A vida como um todo é tão real como real é o universo que permitiu o quase milagre da transformação da físico-química em bioquímica, e assim permitiu a um ser replicante ter tido origem, talvez muitas vezes, e em múltiplas diferentes localidades deste quase infinito universo.
Espero que os olhos que me permitem a sensação de visualização, e o subjetivo que me faz ser quem sou, não se percam de perceber a beleza imanente da vida, deste planeta e do universo que nos possibilita existir.
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