Consciência inconsciente

Nós "temos" a consciência de que somos conscientes, talvez seja esta uma das maiores diferenças sobre os demais animais. Somos conscientes de que somos conscientes e podemos questionar nossa consciência da consciência, ou assim o cremos, entretanto esta mesma consciência pode ser tão somente uma consciência estabelecida como uma espécie de interface de entrada e saída entre o que somos inconscientemente e o eu que se aparenta consciente de tudo, mesmo esta consciência deve ser como que uma realização do inconsciente, como uma forma de comunicação de todo um processo elaborado e descentralizado em muitas formas e locais, de nosso circuito cerebral inconsciente, dando-nos a sensação de gerenciamento do que somos.

Todo processo consciente é primeiramente processado e mediado por processos inconscientes. Não possuímos domínio externo, ou consciente, sobre todos os próximos pensamento que nos virão a mente consciente, alguns simplesmente virão, sem controle consciente, e mesmo outros, que aparentemente sob total domínio da consciência, tem se mostrado a luz de novas medições, que se iniciaram instantes antes de conscientemente decidirmos neles pensarmos, assim, até mesmo o livre arbítrio, como sendo algo de total competência do consciente, que é nosso consciente quem faz quaisquer decisões, perde muito de seu apelo filosófico. É necessário aprofundarmos estudos neurológicos sérios e repensarmos a consciência e o livre arbítrio. Para que tivéssemos controle consciente, precisaríamos primeiro ter conscientemente “pensado” antes do pensamento, e esta regra se estenderia para todo o sempre, de forma regressiva. Teríamos que ter conscientemente pensado conscientemente no pensamento que nos veio a mente e teríamos de ter pensado neste pensamento que fez pensar o pensamento que veio a mente, e assim por diante. Não temos este controle, ou o que se tem mostrado nos estudos é que não temos este controle total. Na verdade, algo pensa, sim, por nós, em nós, sendo nós, é a nossa mente inconsciente que “pensa”. Quando o pensamento chega a nossa mente consciente, ele foi trabalhado inconscientemente, e assim não temos o livre arbítrio total de controlar nossos pensamentos, desejos e escolhas. Quando escolho, inconscientemente já escolhi, e mesmo que pense que mudei de opinião, inconsciente também já o fiz previamente. O livre arbítrio é por esta perspectiva uma ilusão bem montada pelo nosso cérebro, como é a sensação de presente, pois que tudo que subjetivamente percebemos do mundo, ou mesmo pensamos, já ocorreu a instantes, sendo assim oficialmente passado. Toda percepção requer processamento mental, requer tempo para que os impulsos elétricos fluam de nossos sensores biológicos até o cérebro, e requer tempo para que o cérebro o torne consciente, sem falar do tempo necessário para que nossos sensores captem o que estamos a tentar perceber. Apenas como exemplo, o que “vemos” como realidade presente já aconteceu, pois que é necessário:

- Tempo para que os fótons oriundos dos “objetos” ou cenas que “olhamos” atinjam nossos sensores visuais (cones e bastonetes).
- Tempo para que os sensores convertam os fótons captados em impulso elétrico.
- Tempo para que estes impulsos elétricos fluam pelos neurônios até chegarem ao cérebro.
- Tempo para que o cérebro distribua estes impulsos elétricos pelo circuito neural para processamento distribuído e paralelo.
- Tempo para o processamento, e para a “criação” mental da imagem, ou do mapa da imagem.
- Tempo para levar esta “imagem” ou o mapa desta imagem, até o consciente, e assim podermos acreditar que estamos vendo algo.
Desta forma tudo que conscientemente percebemos, já é passado, mas o cérebro sincroniza de tal forma tudo, para que o percebamos como real presente. E quem atua neste processamento? Nosso inconsciente.

Outro exercício mental que podemos fazer, é o de observarmos, por exemplo o toque de nossa mão no dedão do pé. Apesar de termos a nítida sensação de que os impulsos chegam ao cérebro ao mesmo tempo, fica fácil de percebermos que isto não acontece, mas nosso cérebro os sincroniza de tal forma para que os sintamos perfeitamente sincronizados, e no momento presente, como na verdade aconteceu, mas pensemos.
- Um impulso faz a viagem mais longa, do dedão do pé até o cérebro e assim gasta um delta de tempo nesta jornada.
- Outro impulso elétrico faz a viagem de nossa mão até o cérebro, sendo uma viagem mais curta, e sendo a “velocidade” de transito pelos neurônios a mesma, este impulso chegará ao cérebro em um delta de tempo menor que o impulso do dedão do pé.
- O último impulso elétrico requer dois deltas de tempos separados, um do fóton que que viaja do toque até nossas vistas (em velocidade da luz, quase instantâneo), e outra porção de tempo pela viagem neuronal curtíssima, dos olhos ao cérebro.
Assim os três impulsos atingem nosso cérebro em instantes distintos, mas nosso cérebro maravilhosamente sincroniza esta sensação, e o faz parecer no presente. E quem faz tudo isto? Nosso inconsciente.


OBS: Apesar de sermos muito mais inconsciente do que conscientes, se é que temos realmente algum controle absoluto sobre a consciência, isto não me dá o direito de abrir mão da responsabilidade do que pensei, escolhi ou do como agi, (ou mesmo do que me omiti), pois no fundo o cérebro inconsciente também sou eu.

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