Mentira e enganação
Mentir e enganar são coisas diferentes, algumas vezes podem parecer ser a mesma coisa, mas no fundo não são, e é fato que posso enganar falando unicamente verdades. Um exemplo que li a algum tempo sobre o assunto, e que me ajudou a mais claramente diferenciar um do outro, seria o fato de eu poder me sentar numa das cadeiras de visitante do congresso nacional, e ligar para algum consultor famoso que não me atenderia, e me apresentar: “olá, aqui é o Tavares, ligando do congresso nacional...”. Mentir, assim, seria como faltar com a verdade quando o outro espera e confia que estejamos sendo honestos, e enganar seria algo como faltar ou falsear uma verdade quando o próximo não está, pelo menos naquele momento, cobrando ou esperando que sejamos honestos. Políticos são exemplos claros e cristalinos de experts em enganação, muitas das vezes falando algo de verdadeiro, líderes religiosos são outro grupo bom nesta área.
Eu, como creio a maioria, entende que não devemos mentir nem enganar, que não é correto mentir ou enganar, mas a mentira, em casos extremos, pode acabar sendo “social” em alguns momentos. Em geral eu gosto dos extremos, mais radicais para testar minhas teorias. Você, ou eu, somos colocados frente a frente com parceiros onde um dos companheiros (as) está armado, tomado de ódio, cego de raiva pelo que entende uma traição do outro (a) companheiro (a), e você é sabedor da traição. Quando o coitado do desesperado, prestes a atirar, te pergunta, você confirma a traição? O que eu faria? Responderia a verdade sob pena de assistir a um assassinato, ou mentiria e tentaria evitar o trágico desfecho? Eu, na emergência do fato, mentiria, mesmo entendendo claramente que mentir é errado, e que poderia acabar com a confiança do amigo para comigo. Mentiria, mesmo sob o risco de perder o amigo depois, não simplesmente porque, minha ideia de respeito ao amigo implica em que prefiro perde-lo a vê-lo cometer um crime, mesmo que passional, mas mentiria também porque uma vida é para mim, mais importante que uma mentira. Com calma, depois, eu falaria a verdade, mas há de ficar claro que decidi assumir correr o risco de que meu amigo perca a confiança em mim, mas com a certeza que manteria por ele o meu respeito de amigo, mesmo que ele não mais me quisesse como amigo.
Como em algumas outras situações, discordo de Kant, pois que ele achava que mentir é sempre errado, mesmo que envolvesse mentiras extremas, como para salvar vidas. É claro que nesta, e em mais outras posições de Kant, me reservo o total e pleno direito de discordar dele. Apesar de entender que matar, ferir, tirar a vida de alguém, sejam atos que entendo errados, entendo plenamente justificado o ato de matar ou ferir em defesa própria, ou na legitima defesa de terceiros que possam estar prestes a serem mortos, sem culpa alguma. Desta forma não faz sentido algum descartar a mentira para salvar vidas. Suponha estarmos em pleno período do nazismo, e em minha casa, escondo uma família judia. Um representante oficial do governo nazista bate à minha porta e me pergunta, você sabe se existem judeus por aqui? É claro que a resposta é não. Sua família está ajudando algum judeu? É claro que a resposta continua a mesma, não......
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