Espiritualidade sem deus
A espiritualidade, ou espiritualização, é por muitos ligada diretamente a algo transcendental. A maioria das pessoas entende a espiritualidade como sendo uma busca de significado para o viver, entretanto atrelada a conceitos místicos e religiosos, como se fosse uma forma de se conectar com algo imaterial. Mas existe uma outra linha, que entende a espiritualização como a simples (porem complexa) busca de se conhecer, de buscar entender a si mesmo, e o mundo vivo em que opera sua existência, desta forma retirando-se dela qualquer conceito transcendental, e assim ficando livre de qualquer vivência religiosa. Vários autores defendem a possibilidade de sua existência em plena realização ateia, uma espiritualização sem deus, sem misticismo, sem o transcendente, mas uma busca por descobrir-se enquanto ser humano, enquanto ser vivente. A busca de uma espiritualização, de um autoconhecer-se, de entender a natureza e o social, é plenamente possível dentro do ambiente realista, materialista e naturalista, e pode acabar por trazer-nos bem-estar psíquico, mental, social e de saúde, pode nos fazer encontrar nossa sensibilidade humana e nos ajudar na construção de nosso amor. Eu entendo que seria melhor utilizar uma outra palavra para esta busca, mas talvez por ignorância ou desconhecimento, não conheço outra palavra que traga consigo este sentimento sincero de buscar se conhecer, assim, não me sinto nem um pouco acanhado em utilizar este termo, desde que tenha o devido cuidado de deixar claro seu total desalinhamento conceitual com qualquer coisa transcendental, mística ou religiosa, como também me utilizar do termo espírito mental, em contraposição a qualquer associação com algum espírito transcendental. Esta linha de pensar se adequa totalmente com minha linha realista materialista naturalista, uma vez que para mim o transcendental, bem como o místico e o religioso não existem, mas a busca por me conhecer o mais plenamente possível é real, e é uma de minhas buscas, bem como conhecer a humanidade, o social, a vida e o universo. Vários pensadores e autores já se expressaram sobre este tema, a espiritualidade sem deus, de Karl Marx, André
Comte-Sponville, Luc Ferry, até Sam Harris, e eu de alguma forma, sem o brilhantismo que eles possam ter dado ao tema, também penso e concordo com uma espiritualização natural, real e não menos material, uma espiritualização desapegada de qualquer transcendentalismo, enfim uma espiritualização sem deus, plenamente racional (até a onde o racionalismo possa ser aplicado), crítica e amorosa. Uma busca de entender-se a si mesmo, e aos outros, de entender o que é a vida (como e porque a química deu o salto para a biologia e desta para a mente, se é ela algo raro, ou algo plenamente natural), o que é o viver, e o porquê tem algo e não apenas o nada. Uma busca pelo livre, porém lógico e coerente pensar, pelo racionalizar, pela análise crítica, pela neurociência, pela psiquiatria, pela psicologia, pelo social, pela biologia, pela química, e pela física, sempre aliado a sensibilidade humana, e sempre natural e real.
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