A razão não é corajosa

A razão não é corajosa, mas longe também de ser covarde. Corajosos ou covardes somos nós, no uso desta razão. A razão em si nada tem de corajosa, e nem pode ter, ela nada tem a ver com coragem, justiça, beleza, alento, generosidade, encanto ou perfeição. A razão é neutra quanto a valores, quanto a desejos, a vontades ou quanto a aspirações. Os valores que possam aparentar ser da razão, não são diretamente dela, mas sim são nossos, em relação ao uso, as vantagens e ao alcance de bem usar esta razão. Os valores, tais como os desejos e os sentimentos, são tipicamente pessoais e subjetivos, apesar de serem influenciados pelo cultural, por catequeses, por induções externas, por autoridades, ou mesmo por modismo, mas são sempre subjetivos, já a razão em si, embora a racionalidade se construa também no subjetivo de nossa mente (como todo o nosso ser), ela, a razão, ganha vida em uma estrutura, metodológica ou não, “axiomatizada” ou não, mas que lhe dá certa sustentação objetiva, e naturalmente tende a um corpo universal do perceber, do questionar, do avaliar, do duvidar, e assim do conhecer, do saber, do buscar, do aprender, e do construir o conhecimento.


A razão não pode existir, amadurecer ou crescer, no "eu acho", até pode nascer neste "eu acho" (e muitas vezes surge nele), e muitas vezes o faz, mas dele se afasta na busca do que realmente é, deve ganhar vida cada vez mais longe do “eu desejo”, apesar de que desejar encontrar e construir uma abordagem racional é necessário, mas a racionalização em si necessita distância do que eu desejaria que fosse ou do que eu creia que devesse ser. A razão, até onde possa ser aplicada (existe um limite prático para sua aplicação), requer lógica, raciocínio, conhecimento, coragem para livre pensar, ousadia para nele caminhar, abnegação para recomeçar quantas vezes forem necessárias ou para abandonar crenças arraigadas, algum ceticismo, mas necessita também de um pouco de amor, pois que senão poderemos esquecer nossa humanidade e caminhar pela ditadura do saber e do conhecimento, que é por si só fria e distante do calor humano. Como já comentado acima, sendo a mais pura verdade ao meu entender, a razão não pode ser levada a ponta de faca, ao seu extremo, não podemos crer que seja possível racionalizar sempre, até a mais profunda das análises, pois que existem limites mentais, limites intelectuais, limites técnicos, e limites práticos do próprio saber para a aplicação da razão. Em algum momento de nossa análise racional, ela terá que embarcar sobre atalhos de crenças, e neste momento são necessários cuidados maiores, para que abrindo mão da razão pura, não por escolha ou preguiça, mas por necessidade, obremos mentalmente em análises críticas sinceras, e coerentes com o que sabemos. Desejar unicamente nos utilizar da razão pura, sempre, em qualquer grau de profundidade de nossa análise, é com certeza se suicidar frente ao inimigo irracional, com as mesmas armas que escolhemos para nos defender dele. Ter a humildade para aceitar e assumir este limite é humano, e em nada desqualifica o pensamento e as análises racionais, apenas mostra que nosso conhecimento é incompleto, mas isto jamais pode significar abrir portas para o ilógico, para o irracional, para as pseudociências, para o que por si só inviabilize o conhecimento estabelecido, ou que possibilite a não busca pelo real. Somos humanos, somos limitados, somos imperfeitos, mas somos capazes de continuar nossa jornada racional, e aos poucos, sempre e cada vez mais, empurrar para mais longe a linha divisória que limita nossa aplicação da razão, que por si só não é corajosa e nem covarde, é apenas racional.


PS: Este foi o primeiro texto publicado neste blog. Isto foi em 18 de dezembro de 2013. Republico-o com algumas pequenas alterações, apenas para o manter aderente ao como hoje penso.


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Sou um ateu racional e um livre pensador, ou melhor, eu sou um ateu que tenta ser (que se compromete a ser) racional e livre pensador.

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