870 milhões - Fome pelo mundo
Não dá para não escrever, peço desculpa a aqueles que não se veem como culpados, desculpa também a aqueles que defendem o sistema neoliberal, mas não dá para não me revoltar. O meu sangue ferve e o meu eu se enjoa de vergonha. A informação não é minha, a fonte é a ONU: 870 milhões de pessoas passam fome no mundo; metade de toda a população do Iémen passa fome, ou está sob ameaça de cair em fome. Apenas como referência, o Brasil possui cerca de 200 milhões de habitantes, em uma conta ridícula de fácil, mais de quatro populações brasileiras passa fome, cerca de uma em cada sete pessoas no mundo padece da fome: acorda, vive e volta a dormir com o flagelo e a dor da fome.
Este número, com certeza está subestimado, ele não inclui aquelas pessoas que se não passam fome absurda, vivem próximos ou ligeiramente acima da linha da miséria, comendo muito menos do que precisam, comendo restos, sobras, doações, caridade e que não atingem cotas proteicas ou vitamínicas necessárias a uma boa alimentação, pessoas estas que vivem a margem do sistema, muitas que apesar de trabalhar o fazem em subempregos, ou mesmo são empregadas quase como escravas, para pelo menos levar um mínimo de alimentação, insuficiente, para si e seus filhos.
A fome por si só me envergonha como humano e me revolta contra este estado capitalista neoliberal.
Sim, estou revoltado, é uma pena que não o suficiente para chutar o balde e sair a campo de corpo e mente abertos para lutar não por mim, ou pelos meus, não pelos meus interesses pessoais, mas sim pelos que padecem fome, pelos excluídos, pelos segregados, pelos seres humanos de segunda ou terceira linha, pelos meus irmãos em espécie que mais parecem (para o sistema) refugos humanos, sobras sem utilidade dos que vivem. Como não me revoltar enquanto pessoas, entre elas uma infinidade de crianças, são relegadas ao azar da vida, apenas pela lógica simples do próprio capitalismo neoliberal.
O que me choca é que muitos de nós não acredita nisto, não sentimos na pele, não visualizamos esta fome, pois em nosso grupo social a fome é limitada a uma pobreza muitas vezes não miserável, mas bastaria levantar os olhos, que veríamos, mesmo em nossa cidade, a miséria latente, e dela veríamos toda a dor, todo o dissabor de pela falta de dignidade humana, de pela falta da presença do estado, e da falta de valor e autoestima, acabamos por ver o crime sendo o poder dominante. Fazemos vistas grossas porque queremos. Para muitos de nós a nossa sensibilidade já foi soterrada, anestesiada, entorpecida, que ao passarmos pela rua, lado a lado com a miséria latente, de crianças, de idosos, de deficientes físicos, de famílias inteiras, já não nos chocamos mais e acabamos achando aquilo normal, mas como pode ser normal a miséria de um semelhante?
Só existe uma forma de me calar, é me matar, ou deixar que a vida me leve, tenho muita vergonha de mim mesmo e dos seres (des)humanos que somos. Sinto pena daqueles que acreditam que a caridade salva, daqueles que buscam a sua salvação, ao invés de buscarem salvar o máximo destes 870 milhões de pessoas com transformações sociais, políticas e econômicas. A caridade é uma necessidade emergencial, sim ela o é, mas a caridade nada transforma, e não tem alcance sobre todos, e o que é pior, sinto pena daqueles que porque fazem caridade acreditam que já fizeram sua parte, mas o que fazem é perpetuar o estado político e econômico que faz de nossa sociedade uma sociedade (des)humana. E o pior, o que vejo em maior quantidade é a caridade feita com o que nos sobra, ou com o que não é nosso. Livrar-nos do que nos sobra não é caridade, pagar não é caridade, mas e daí, fiz minha caridade, o resto não é comigo: bem domesticado, bem caricato, bem “catequesico”. A caridade é bonita, a caridade é necessária, mas volto a repetir, não é suficiente e nada transforma no final.
OITOCENTOS E SETENTA MILHÕES DE PESSOAS PASSAM FOME NO MUNDO. Muitos virarão a cara, muitos vão encontrar mil desculpas, muitos vão me chamar de estúpido, de comunista, de provocador, sinceramente não faço a mínima, faço sim questão de lembrar a todos e a mim mesmo, que gostemos ou não, somos direta e indiretamente culpados por parte disto, eu, você, o povo do Iémen e todos os viventes. A sociedade somos nós, acho que isto já diz muito sobre mim, sobre você, sobre todos nós e sobre a sociedade.
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Sou um ateu racional e um livre pensador, ou melhor, eu sou um ateu que tenta ser (que se compromete a ser) racional e livre pensador.
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