Oportunidades iguais e discriminação

Vivemos em uma sociedade em que a discriminação acontece muitas vezes a céu aberto, e nada fazemos. Nos escondemos ou nos omitimos, muitas vezes a minimizamos como algo quase normal e nem não tão mal assim, isso porque não somos nós o alvo destas discriminações, e isto não mais nos envergonha, pelo menos a muitos, que nos afirmamos humanos. Não sou da área de direito, mas entendo que a omissão frente a qualquer ato discriminatório, preconceituoso, opressor ou de exploração devia ser tanto crime quanto o ato em si. 


Discriminação temos de vários sabores e é claro em vários níveis, mas não é porque uma discriminação pareça pequena que deixa de ser discriminação: Discriminação de cor, de gênero, de classe social, de idade, de escolha religiosa (ou de não ser religioso), de opção sexual, de padrão de beleza, entre outras. Acabamos olhando as discriminações como algo avulso, em separado, cada uma como uma existência própria, e muitas vezes nos esquecemos de perceber que elas podem se sobrepor (e muitas vezes se sobrepõem), o que piora em muito a situação do ser vivente que se enquadra nelas. É claro que os negros são discriminados, agora imagina um ser humano de pele negra do sexo feminino, um ser humano de pele negra do sexo feminino e da classe social dos pobres ou miseráveis, um ser humano de pele negra do sexo feminino e da classe social dos pobres e de idade avançada, um ser humano de pele negra do sexo feminino e da classe social dos pobres de idade avançada e homossexual, um ser humano de pele negra do sexo feminino e da classe social dos pobres de idade avançada e homossexual e de religião de origem africana, um ser humano de pele negra do sexo feminino e da classe social dos pobres de idade avançada e homossexual e de religião de origem africana e obeso... e por aí vai. 

Parece que exagerei? Pode até parecer, mas talvez alguns de nós, ou mesmo vários de nós, conheçamos alguém que possa se encaixar em toda a série, ou pelo menos em parte dela. Bastaria ser uma mulher pobre e negra para já ter da sociedade uma natural discriminação, e o que é pior, mais do que a discriminação em si, é a exploração e a opressão (que acaba decorrendo da discriminação), mulheres ganham menos que homens, negros ganham menos que brancos, imagina uma mulher negra média o quanto não ganha menos que um homem branco médio. E ainda “arrotamos” (de estomago cheio, porque não sabemos o que é fome) igualdade de oportunidades para todos, brincadeira. Imagina a oportunidade de filhos de brancos de classe alta, contra filhos de negros de classe pobre. Somos tão perversos na defesa de nossos interesses, que desejamos sinceramente oportunidades iguais para todos, porque no fundo temos como ajudar nossos filhos, agora oportunidades iguais para seres humanos de realidades tão diferentes é no mínimo desumano, os filhos dos brancos de classe alta sempre terão as melhores oportunidades, contra uma ínfima parcela de negros pobres que com muito esforço e competência consegue ascender. Oportunidades iguais para todos é uma forma desumana de manter o status quo atual, dos ricos como ricos e dos pobres como pobres, porque salvo pontuais exceções é o que as oportunidades iguais têm garantido ao longo do tempo. 



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