Pensar raramente é um ato naturalmente neutro
O pensamento crítico, livre e racional, pois que estruturado sobre o pensar natural, sobre o pensamento individual, subjetivo e repleto de crenças, praticamente nunca é totalmente neutro, em sua forma mais pura. Desta forma temos uma tendência a não nos mantermos neutros, tanto de opinião quanto de “certezas”, quanto ao que há, quantos aos fatos que já foram e que estão acontecendo, especialmente, ainda, quanto a subjetividade de como deve ser esmiuçado, destrinchado, estudado, pesquisado, analisado e criticado cada um destes e daqueles fatos, destes e daqueles fenômenos. Desta forma acabamos por agir como se fossemos tendenciosos, muitas vezes sequer sem o percebermos, somos continuamente influenciados pelo que somos, pelo como pensamos, pelo que acreditamos, e também pelas induções terceiras, por ancoragens, por falta de foco, e por interesses diversos, entre outros “eventos” que continuamente impactam nosso pensamento, porque somos nós mesmos pensando. O pensamento crítico, racional, lógico, pode nos ajudar, mas pode também ser apenas uma ferramenta para justificar nossas crenças e nossas “certezas”. Posto assim, não é só achar que estamos livres de tendências pessoais e coletivas porque nos cremos pensando livre e racionalmente, necessário é que imponhamos esforços para sermos metódicos no ato de pensar criticamente, não podemos nos ater às evidencias que nos interessam, nem aos autores que gostamos, aos amigos, aos colegas, ou aos que parecido conosco pensam, muito menos nos ater a seguir apenas nossos “instintos” pois que são falhos, limitados, e assim imperfeitos e contaminados.
O pensamento crítico pode até ser neutro, entretanto somente quanto a sua forma, ao “método”, quanto aos objetivos, mas como o pensamento crítico é realizado no interior do que somos, podemos contaminar o método, iludirmos quanto à forma, e distorcermos os objetivos. O pensamento crítico deve ser neutro quanto ao desejo sincero de desconstruir nosso pensar natural para buscar entender, descobrir, e construir o que realmente se esconde nos bastidores de cada ato, evento, fenômeno, ou foco de estudo. É necessário extremo zelo e cuidado para não nos perdemos no que somos ou no que nos interessa enquanto buscamos uma abordagem honesta, racional, crítica ou analítica. Esperar que toda crítica, ou acreditar que a crítica seja naturalmente neutra, muitas vezes pode nos levar a nos perder na falácia de que se pode realmente entender e buscar alguma verdade, sendo facilmente neutro, inerte, ou sem tomar sobre si a responsabilidade de desmontar nossas próprias falácias mentais, e de erguer uma construção onde a natureza, o humano, e o social, sejam prioridades máximas, sejam respeitados, e sejamos nós os pensadores comprometidos com alguma verdade e com muita dignidade humana e social.
Um pensador crítico não está apenas interessado em entender cada fato, cada situação, cada experiência, e sim, também, em buscar, em encontrar caminhos que dignifiquem o ser humano, entretanto nunca ao preço vil de colocar o humano acima do natural. O humano é parte integrante do natural, é uma parte frágil e totalmente dependente do natural. Um livre pensador, que se espera neutro, absolutamente neutro, não é um livre pensador, quando muito é um interpretador do que ocorre, pois que pensar livre, pensar de forma crítica, de forma racional, tem que ser muito mais do que simplesmente entender o como, mas também o porquê, o para quem, o quem ganha e quem perde, quais os interesses envolvidos, e qual o impacto sobre o natural, o social e o humano. Mais do que simplesmente compreender o fato, é necessário ter a coragem e a ousadia de ir além e refletir sobre a relação direta ou indireta sobre a natureza e as vidas humanas.
Um livre pensador pode ser apenas um entendedor, algo como um “historiador” tradicional que entende cada fato em si, confirmando ou refutando aquele estado de coisas que já são, ou pode ele seu um crítico e transformador, assim como pode ser o nosso próprio pensamento.
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