Ler, escrever, viajar, propor e provocar
Ler, escrever, "viajar", propor e provocar
Se ler é embarcar em uma viagem, escrever é um pouco como construir o itinerário. É claro que ler é muito mais do que embarcar em uma viagem, e é verdade também que escrever é muito mais do que indicar qualquer itinerário.
Escrever é deixar um pouco de si mesmo, mesmo que escondido nos tortuosos caminhos das palavras, nas interessantes trilhas do sentido e do se doar. É falar por símbolos mudos, mas repletos de sentidos, é falar mesmo que sem ninguém para ouvir. Quando escrevemos não sabemos sequer se existirá alguém com curiosidade suficiente para nos ler. Sabemos o que desejamos escrever, mas a leitura é pessoal, e jamais poderemos garantir que leram exatamente o que desejamos expressar, mas se o escrito servir para provocar um mínimo repensar, já valeu a pena ter escrito. Escrever o que todos já sabem não me parece importante, a escrita deve servir como algo provocador, deve deixar claro alguma mensagem, mesmo que não seja aderente ao leitor. Escrever sem um que de revolta, de desafio, e de provocação, sem que as palavras sejam abusadas, ousadas ou desafiantes, sem que a semântica do texto não se aventure por caminhos provocativos, até mesmo difíceis, que não busque ser vanguardeira e corajosa, seria escrever sem ímpeto. Escrever, sem que o sentido, o significado, direto e indireto, de cada detalhe e do todo não ouse caminhar à frente, que esta escrita seja escorada por “mesmismos”, deixa o texto além de sem objetivo, quase sem possuir a força da transformação, do provocar e do repensar.
Escrever é nos obrigar a refletir sobre o que a tinta deixa no papel, é uma espécie de autocritica natural, é identificar nossos demônios e encará-los de frente e dizer a eles que se o tememos, não o fazemos além de nossas forças, posto que os podemos exorcizar pela ponta da caneta, pelo grafite do lápis, ou pelo teclado de um computador.
Escrever tem um pouco de autobiográfico, sim, pois deixamos como legado um muito de nossa evolução política, filosófica, mental, social e humana. Escrever é um pouco também como ter a coragem de se encarar e de se expor, não importando exatamente o que pensarão com o que escrevemos, é abrir os olhos, a mente, e o coração ao que somos, ao que podemos ser, e ao que no fundo desejamos ser.
Escrever tem que ter muito mais do que buscar agradar o leitor, precisa ser sincero, precisa ser um pouco de você, precisa provocar certo incomodo no leitor, como pode ter incomodado você de repensar o contexto e o sentido geral. Como é bom quando escrevemos fácil o que sentimos, o que desejamos falar a muitos, o que nos representa, mas muitas vezes, mesmo para o autor, implica em rever certas feridas, certas dúvidas, mas que pela força do pensar, do refletir, e do criticar, acaba nos convencendo e sentimos finalmente a leveza de colocar em tinta de letras, em semântica impregnada de nós mesmos, o texto que escrevemos.
#ateuracional
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