O real e o social a realidade como norma e o social como princípio

O real e o social, a realidade como norma e o social como princípio

A realidade caminha, real e verdadeira, sob (mas autônoma) a percepção de nossa subjetividade, ora independente de nossos passos, ora dependente de nossas ações. Somos reais, e mesmo que apenas percebamos o mundo e a própria realidade de forma subjetiva, interagimos diretamente com o real da existência. Gosto muito da imagem passada por aquela borboleta que batendo asas em um espaço-tempo, afeta, pela complexidade do caos que envolve toda a realidade, outro espaço tempo. Entendo que a realidade em si é muito maior do que o impacto que nela possa fazer com meus atos e comportamento, que são em última instância apenas percebidos subjetivamente por mim e por todos, mas mesmo assim, meus atos interagem com o real de forma que talvez eu nunca possa garantir toda a sua abrangência. 

O real... Como gostaria de que pudéssemos perceber objetivamente o real! Mas isso nunca me coloca em dúvida de que o real exista, de que ele está de alguma forma ali, aqui e acolá. Um carro vindo em minha direção em uma autoestrada não é, salvo algum distúrbio mental, uma mera criação mental, é um objeto real que pode me matar, devo sair de sua frente. Se o objeto que chamo de carro, é exatamente igual ao que minha mente construiu ou não, é outra estória. Aquele objeto não tem cor em essência, a cor não é uma qualidade da matéria em essência, mas ele reflete um ou mais comprimentos de onda que identifico como cores. A matéria daquele objeto é, por mais incrível que possa parecer, composta por muito mais espaço aberto, vazio, do que por prótons, nêutrons, elétrons e etc. mas que unidos pelas forças eletrofraca, eletroforte, e elétrica, acabam por nos fazer percebê-lo como um objeto inteiro.  Assim aquele objeto que percebo como um carro, pode não ser exatamente igual ao que percebo e construo mentalmente, mas colocar em dúvida sua existência real me parece loucura. Se estou no vigésimo andar de um prédio, em frente a uma janela aberta, e olho para baixo e percebo a altura e o chão ao seu final, eu não me lanço pela janela porque a realidade pode não ser verdadeira, pois que foi criada subjetivamente. A altura é real, o chão é real, a gravidade é real, se me lançar pela janela de um prédio alto, estou me lançando à morte, e não faria isto, e ninguém em pleno gozo de sua consciência o faria também, não obstante ter a certeza de que tanto a altura, quanto o chão, são percebidas apenas subjetivamente. 


Quem pode garantir que a percepção que tenho de uma cor, seja exatamente a mesma construção mental que leva você a perceber esta mesma cor? Como nossa interação com o real, e nossa subjetividade é construída por aprendizado mental, acabamos por aprender que aquele percebido pode se chamar, por exemplo vermelho, e nós dois, passaremos a chamar de vermelho, percepções que podem não ser exatamente iguais. Isto me provoca, isto me faz pensar, nunca colocando em dúvida que o real existe, ou mesmo me levando a imaginar que ele somente exista porque eu o construo mentalmente, o real existe independente de minha construção subjetiva, ou de minha observação. O próprio conceito quântico, típico do grupo de Copenhagen, de que a incerteza leva a que uma partícula, coberta pela equação de ondas, esteja em todos os lugares, e que somente quando a observamos é que todas as demais ondas, a menos de uma, colapsam, e assim a partícula assume uma única posição, vem sendo substituída por uma visão que me é muito mais coerente, a de que por inúmeros eventos, as ondas se “desconectam”, entram eu um estado de “descoerencia”, e assim apenas uma está “viva”, “real”, em nosso mundo, podendo as outras até estarem assumindo, individualmente estados “descoerentes” em outros mundos. Loucura, talvez. Mas nossa mente cresceu para aceitar o mundo de forma subjetiva e aparente, assim fica não intuitivo nossa análise mais realista de um real que nunca vemos objetivamente, somos obrigados e tentar entende-lo por efeitos secundários. 

Sou realista (ou tento ser), exatamente porque creio, aceito, e entendo ser a realidade algo imanente com a existência, e que devo sempre encarar a existência como uma percepção subjetiva, nunca ideal, de um algo real, material, e imanente, ou deles derivados, ou a eles redutíveis, direta ou indiretamente.

Texto originalmente publicado no site www.orealeosocial.com em março de 2014. Este site estará sendo descontinuado, por isto republico aqui este texto.

Arlindo Tavares
Alguém que tenta ser um realista, e que se compromete com o social .

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