Da seleção natural a Origem das espécies
Findada a viagem de Darwin, a bordo do Hms Beagle, Darwin ainda não tinha uma teoria formada. Ele possuía muitas informações soltas, e que foram sendo enriquecidas com suas análises pessoais do material que trouxe, bem como com análises que recebia de outros estudiosos sobre exemplares que Darwin lhes encaminhou ou cedeu.
Neste momento, o papel de deus no conceito biológico da “vida” estava em “provação”, em fermentação, na cabeça de Darwin. Neste momento ele conhece um físico, Charles Babbage, que defendia abertamente que deus não agia ou operaria por milagres ou decretos, mas sim através das leis físicas. Isto dava uma sobrevida ao conceito de deus, pois permitia uma coexistência de deus com a ciência, mas não um deus onipotentemente arbitrário e atuante. Lentamente Darwin vai percebendo, e se convencendo, de que as espécies não eram imutáveis, não sendo assim projetos fixos de um deus, mas que estas espécies tinham se adaptado a viverem em seus nichos ecológicos.
Conforme avançava em seus estudos e em suas pesquisas, Darwin passa a rejeitar cada vez mais o conceito da superioridade da espécie humana, ou mesmo da ideia de que uma espécie seria superior a outra. Ele agora já confiava sua atenção a que cada espécie estava adaptada para ocupar uma posição biológica em um nicho biológico específico.
De repente, Darwin tem acesso ao conceito de Malthus acerca, entre outras coisas, da competição por alimentos, mas Darwin já tinha um conhecimento suficiente para não aceitar o cenário malthusiano completo, pois que a competição, para Darwin só deixaria sobreviver, na média, aqueles mais bem adaptados, e ele chamou a este processo de seleção natural, levando em conta, por comparação, o processo de seleção artificial praticada pelos criadores.
Um problema para Darwin era que esta seleção permitiria o aperfeiçoamento natural de características em cada uma das espécies, mas infelizmente, somente isto, não justificava a criação de novas espécies. Assim Darwin deduz que algo deveria ocorrer para que as adaptações pudessem seguir caminhos diferentes, até que somadas, a longo prazo, tivessem dado origem a novas espécies, e para que isto tivesse ocorrido era também necessário uma forte concorrência para servir de forte apelo de seleção, em locais, nichos independentes, entre elementos de uma mesma espécie que se separaram ao longo do tempo. Parece que Darwin acabou intuindo isto meio que por acaso, mas ele percebeu, e este foi um grande salto para a teoria. Em resumo, a variação aleatória, em conjunto com a força de seleção natural, criam indivíduos com novas características, propiciando assim que a natureza pudesse naturalmente selecionar entre as diferentes categorias de variações, aquela que melhor se adapte ao nicho local. A percepção do acaso, da criação de elementos com pequenas diferenças aleatoriamente, exerce um papel importante no desenvolvimento da ciência biológica pois elimina a ideia de um projeto divino. É claro que o próprio conceito em si da evolução já contradiz a história da criação da bíblia, mas a teoria criada por Darwin vai mais longe e derruba as visões aristotélicas e do cristianismo tradicional, que era erigida sobre criação e sobre propósitos, e não por leis indiferentes ao criador ou a propósitos. Assim Darwin foi para a biologia o que Newton havia sido para a física, divorciando a ciência de suas raízes tanto gregas quanto religiosas.
Darwin era um homem religioso, e isto criou nele um antagonismo, talvez tenha sido de longe, este o motivo de que ele não tornou público mais cedo sua teoria. Já e 1842, ele conclui uma sinopse de sua teoria da evolução. Em 1844 ela já havia expandido sua sinopse para um livro de 231 páginas. Darwin sabia que encontraria forte repulsa tanto dos religiosos, quanto daqueles cientistas agarrados a sua velha forma de ler o mundo. Desta forma, Darwin busca, para se defender dos ataques que previa, e não ficar exposto, reunir uma montanha de evidências que corroborassem cada um de seus argumentos. O primeiro grande desafio seria quebrar a visão antiga de que as sementes não sobreviveriam a viagens naturais, por mar, do continente até as ilhas distantes, e isto era um dos argumentos de que as plantas locais as ilhas haviam sido criadas lá por um criador. Mas eis que Darwin quebra esta percepção, com provas, de que as sementes são muito mais resistentes do que se imaginava, e estas, por diversos meios poderiam ter ido, até mesmo por semanas boiando na “salmoura” do mar.
De forma heterodoxa para a época, Darwin foca sua pesquisa muito mais nas espécies vivas, do que em fosseis, o que praticamente, todos os grandes da época faziam. Em 1856 Darwin já havia divulgado sua teoria em detalhes para alguns amigos próximos, entre eles o grande biólogo T H Huxley, que era nada menos do que o maior especialista do mundo em anatomia comparativa. Huxley e outros, sugerem que Darwin publique imediatamente sua teoria, mas ele não o faz, até que ele se vê contra a parede, pois que outro pesquisador, Alfred Russel Wallace escreve a Darwin com uma teoria bem parecida com a sua, apenas sem as provas minuciosas que Darwin teve o cuidado de conseguir ao longo do tempo. Ético, Darwin concorda em apresentar, ao mesmo tempo, sua teoria com a de Walace.
Walace em sua teoria não conseguiu ser tão detalhista quanto Darwin no tocante a forma da criação de novas espécies ou subespécies. Com o passar do tempo, Walace tornou-se amigo de Darwin.
Assim, o Darwinismo passa a ser sinônimo de naturalismo, de materialismo ou de filosofia evolutiva. Darwin sabia bem que seu trabalho era apenas uma ponta inicial, e que com o tempo a evolução ganharia corpo e força em tudo na biologia. O que Darwin propôs era um princípio fundamental que determinava como operava de forma macro a evolução. Darwin não conhecia o trabalho de Mendel, e com o desenvolvimento da física passou a ser possível uma análise profunda da genética envolvida, e toda esta análise apenas corrobora a evolução, pelo princípio da hereditariedade. Com o desenvolvimento destas tecnologias, hoje estudamos e revelamos detalhadamente a estrutura do DNA, do genoma, permitindo aos cientistas estudar e entender as engrenagens reais de como ocorrem as heranças genéticas no processo da evolução..
Comentários
Postar um comentário