Biologia o último salto contra Aristóteles e sua equivocada ciência qualitativa
Das linhas científicas básicas, a biologia foi a última a dar o grande salto para uma ciência quantitativa, não aristotélica. Como as outras ciências, a biologia teve que indispor-se contra nossa (ainda de uma maioria de pessoas) natural tendência a nos vermos como especiais, e como o centro da existência, como uma criação divina. No caso da biologia, este agravante era mais forte ainda, pois que a vida, a nossa vida, estava diretamente entrelaçada com a biologia. A biologia assim tinha duas lutas diretas, e aparentemente inglórias, em seu início, lutar contra o antropocentrismo (de origem Aristotélica) e contra a doutrina teocêntrica da igreja. Exatamente aos moldes equivocados do como Aristóteles situava a terra como centro físico do universo, ele identificava sua biologia de forma a exaltar os seres humanos como medida de sua qualidade biológica, em especial identificando os machos humanos como o centro de tudo.
Aristóteles defendia piamente que um deus, ou uma inteligência divina, tinha projetado todos os seres vivos, e que este ser divino tinha dado aos vivos uma essência ou uma característica especial que os abandonava tão logo morressem. E nesta criação, deus deu aos homens o seu ápice de criação, sendo eles o ponto mais alto da hierarquia da vida. Aristóteles era tão fanático nesta visão que ele defendia que cada característica diferente, em outros animais, seria uma deformidade, e esticava este preconceito às mulheres, que defendia como um macho deformado ou incompleto.
Aristóteles defendia ainda a geração espontânea da vida, que por algum “soro” divino nascia espontaneamente da matéria inanimada. A nova ciência da vida, que viria a se chamar biologia, necessitava assim largar Aristóteles e o teocentrismo, e buscar outras respostas que não fossem “foi porque deus assim o fez”.
É verdade que o salto definitivo, aquele semelhante ao efetuado por Newton na Física, só veio mais tarde com Darwin. O século XVII deu início ao fim da física de Aristóteles, e colocou sobre forte ataque o conceito aristotélico da vida. Um dos primeiros ataques sérios contra o conceito vigente foi feito por Francisco Redi, em 1668, com o teste contra a geração espontânea da vida. Este é considerado um dos primeiros experimentos biológicos, realmente científico, desta nova biologia. Esta questão foi finalmente encerrada com Louis Pasteur, que no século XIX, em uma série de criteriosos estudos e experimentos científicos, soterrou por completo, que nem mesmo os microrganismos eram gerados espontaneamente por nenhum deus, e sob nenhum sopro especial. Um dos argumentos de Aristóteles, e defendidos pela igreja, era o de que os “animais inferiores” eram pequenos demais para se reproduzirem (não eram capacitados a fazerem sexo), com o advento do microscópio isto foi devidamente refutado, mostrando que os “animais inferiores” não eram tão simples como ele pensava, e tinham órgãos e partes corporais como nós mesmos.
Hooke e Leeuwenhoek, foram para a biologia, uma espécie do que foi Galileu para a física, mas coube a Charles Darwin (1809-1882) ser o Newton. Aos moldes dos físicos antes de Newton, e dos químicos antes da tabela periódica, alguns biólogos antes de Darwin conheciam alguns dados, mas não sabiam como encaixá-los. A linda e maravilhosa biologia, deu assim seu salto para uma ciência de ponta, uma ciência essencial, uma ciência que encanta e que cada vez mais responde as mais diversas perguntas do que é vida.
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