Bacon e Descartes, o método filosófico e suas incompatibilidades com a física natural
Longe de ser ou de me sentir melhor que qualquer outro, acho
no mínimo interessante, como acabo por discordar da importância dada a certos
pensadores. Muitas vezes me sinto como se perdido nesta interpretação, sinto-me
como se estivesse sendo do contra, mas apesar de perceber coisas boas nestes
pensadores, não consigo dar a mesma importância, o mesmo valor que percebo sendo
dado pela maioria. Desta forma acho muito reconfortante e gratificante quando “esbarro”
com alguns grandes cientistas que pensam parecido comigo, ou melhor, a bem da
verdade, que eu pense parecido com eles, pois que eles estão anos luz a minha
frente na análise física, real, e natural. Não sou, ou procuro não ser, ingênuo
e entendo que mesmo discordando em vários pontos destes ditos e conceituados
grandes pensadores, percebo que em outros pontos eles se mostram coerentes e
focados. A diferença talvez seja que dou mais valor ao pensamento que se
aplique a realidade, ao natural, e não apenas ao pensamento filosófico livre. É
lógico que pensadores como Platão, Aristóteles, Francis Bacon, Rene Descartes,
entre outros (ousaria incluir em menor grau Khun e Nietsche e mesmo kant, etc.),
possuem valores, mas ao mesmo tempo, do ponto de vista geral, cometeram equívocos
tais que no mínimo comprometem o dito brilhantismo (e também o raciocínio como
um todo), que a sociedade em geral atribui a eles. É muito bom quando “esbarro”
em livros como o do Steven Weinberg, físico laureado com o Nobel (por seu trabalho de unificação de duas forças
fundamentais da natureza, em conjunto com os seus colegas Abdus Salam e Sheldon
Glashow), e que de alguma forma tem um pensamento que se alinha ao meu.
Ele fala sobre Bacon e Descartes:
“... as duas figuras que ganharam maior renome pela
tentativa de formular um novo método para a ciência são Francis Bacon e Rene
Descartes. Em minha opinião, são dois indivíduos que têm uma importância
ALTAMENTE SUPERESTIMADA (grifo meu) na revolução científica. Steven Weinberg.”
Bacon defendia que as descobertas emergiriam diretamente da
observação neutra e cuidadosa da natureza, e não aceitava que pudessem surgir
também da dedução de princípios. Ele também desdenhava de qualquer pesquisa
científica que não servisse a um objetivo prático imediato. Bacon poderia ser
situado no extremo oposto de Platão, e é claro e notório que os dois estavam
errados.
“O progresso depende de uma combinação de observação e
experimentos que podem sugerir princípios gerais, e também depende de deduções
destes princípios que podem ser testados contra novas observações ou
experimentos ... e é claro que o entendimento do mundo tem valor em si mesmo,
quer leve diretamente ou não a algo útil e imediato ... pessoalmente, não vejo
que os escritos de Bacon tenham trazido melhoria a qualquer trabalho de algum
cientista. Galileu não precisou de Bacon para lhe dizer que procedesse a seus
experimentos, e nem Boyle e Newton... Steven Weinberg.”
Quanto a Rene Descartes, ele demonstra seu ceticismo quanto
ao conhecimento derivado dos sentidos, e ainda apresenta diversos argumentos na
defesa da existência de deus, sendo que nenhum deles possui força de
convencimento. De bom, ele rejeita a autoridade da religião estabelecida.
Descartes foi um dos pioneiros a introduzir o uso “firme” da matemática na física,
mas como Platão dava valor demais as certezas do raciocínio matemático. Ele
acreditava, erradamente, que o pensamento puro, sem experimentação, era uma
certeza de se conseguir encontrar os princípios científicos fundamentais. De
novo, erradamente, ele rejeita forças ocultas ou invisíveis operando a distância.
Para ele, as coisas interagem por contato direto, umas puxando ou empurrando as
outras. Descartes, mais uma vez de forma equivocada, e foram muitos e muitos os
equívocos dele, defendia o pensamento puro dizendo que “podemos confiar na
clareza natural ou na faculdade de conhecimentos que nos é dada por deus,
porque, seria uma contradição total que ele nos enganasse” (esta frase sozinha
desqualifica toda a forma de olhar o natural, olhar o real, olhar e
experimentar ciência, de Descartes). Como diz Weinberg: “É engraçado que Descartes
pensasse que um deus que permite terremotos e pragas, não permitiria que um
filosofo fosse enganado”.
Sua filosofia foi e é muito admirada, sobretudo na França. “Isso
me parece curioso. Para alguém que dizia ter descoberto o verdadeiro método
para buscar um conhecimento seguro, chega a ser notável o quanto Descartes
errou sobre tantos aspectos da natureza. Estava errado sobre a prolação da
Terra (isto é, que a distância da Terra de um polo ao outro é maior que o círculo
equatorial). Estava errado, como Aristóteles, sobre a impossibilidade do vazio.
Estava errado sobre a transmissão instantânea da luz. Estava errado ao dizer
que o espaço é ocupado por vórtices materiais que transportam os planetas em
suas trajetórias. Estava errado ao anunciar que a glândula pineal é a sede de
uma alma responsável pela consciência humana. Estava errado sobre a quantidade
conservada nas colisões. Estava errado quando afirma que a velocidade de um
corpo em queda livre é proporcional à distância percorrida na queda. Com base
na observação de vários encantadores de gatos de estimação, estou convicto que
Descartes também estava errado ao considerar os animais como máquinas sem
absolutamente nenhuma consciência. Voltaire fazia ressalvas semelhantes em
relação a Descartes: “Ele errou sobre a natureza da alma, sobre as provas da existência
de deus, sobre questões da matéria, sobre as leis do movimento, sobre a
natureza da luz. Admitiu ideias inatas, inventou novos elementos, criou um
mundo, fez o homem a sua maneira – de fato, diz-se com razão que o homem segundo
Descartes, é o homem de descartes, muito distante do homem como realmente é.
Voltaire”
Os erros de julgamento de Descartes não teriam importância na
hora de avaliar a obra de um indivíduo escrevendo sobre filosofia ética ou
política, ou mesmo sobre a metafísica, mas em se tratando de alguém que
escreveu sobre o método para bem conduzir a razão e buscar a verdade nas ciências,
o reiterado malogro de Descartes em entender corretamente as coisas não pode
senão lançar uma sombra sobre todo seu julgamento filosófico. A dedução pura e
simples não consegue arcar com o peso que descartes lhe consignou. Steven
Weinberg.”
Entendo que Descartes, ao contrário de Bacon, apesar de seus
erros, teve contribuição à ciência, como o método matemático hoje conhecido
como geometria analítica, na ótica no tratamento dos ângulos de entrada e saída
(refração) dos mesmos quando trocam de meio (índice de refração) (ele até errou
na explicação, mas acertou na angulação). Descartes em sua melhor fase de
cientista fez um bom trabalho sobre o arco íris, mas por incrível que possa
parecer, desprezando seu próprio método, trabalhando firme em experimentação.
“Seus escritos sobre o método científico atraíram grande
atenção entre os filósofos, mas não creio que tenham exercido grande influência
positiva na prática da pesquisa científica (e nem mesmo, como dito anteriormente,
sobre o próprio trabalho científico mais bem-sucedido de Descartes). Na
verdade, seus escritos tiveram um efeito negativo, o de retardar a acolhida da
física newtoniana na França. O programa estabelecido no discurso sobre o
método, qual seja o de derivar princípios científicos pela razão pura, nunca
funcionou e nunca poderia ter funcionado. Weinberg.”
Comentários
Postar um comentário