Verdade e certeza
Em verdade não tenho certezas, mas tenho boa certeza de que a verdade existe.
A verdade existe, a certeza é inalcançável, ela assim não existe e talvez, em essência, poderá nunca existir. Porque somos limitados e falhos tanto no processamento mental, quanto em nossos sensores, sejam estes biológicos ou mesmo criados por seres limitados que somos, nunca teremos total acesso a verdade que se esconde nos bastidores do submundo da realidade.
A ciência busca o saber, mas busca antes a verdade. A ciência é conhecimento, ela nada constrói, apenas o seu próprio objetivo que é o de descobrir, o de desvendar, o de perceber, sempre de forma objetiva, racional, crítica, positiva, comprovada e evidenciada, assim, a Ciência séria sempre estará buscando a verdade, aquela verdade que se deus existisse somente ele teria percepção completa sobre ela, aquela verdade em que somente um deus hipotético teria alcance total sobre a mesma. Como não somos deuses, e como deus não existe, a verdade em absoluto, abrangente e total, deverá estar para sempre impossibilitada de ser alcançada, e por sermos limitados, falhos e falíveis apenas conheceremos aquela verdade absoluta de forma incompleta, assim nosso saber e conhecimento serão sempre falíveis, falseáveis e incompletos em algum grau de grandeza ou em algum escopo. Dizer que não sabemos nada é mentira, mas também dizer que tudo sabemos, ou que sabemos tudo sobre algo, que podemos assim de toda forma termos certeza absoluta e irrestrita sobre algo é loucura maior ainda. Uma vez que somos incompletos, imperfeitos e contaminados por preconceitos, nosso saber, sempre em algum escopo, será ele também incompleto, imperfeito, distorcido, falível e falseável. A realidade está muito além do que podemos perceber e compreender em totalidade. A certeza matemática existe, mas sempre, quando levamos realidade à matemática, quando tentamos impor a natureza à matemática fazemos física, fazemos ciência, e a certeza matemática de alguma forma se perde na incerteza da realidade impossível de ser percebida em essência, e assim impossível de ser totalmente comprovada.
Não consigo concordar com Sócrates que nada sei, mas também não sou um iludido que crê que tudo saiba e que a tudo é possível saber em certeza. Sei que pouco sei, e sei que muito tenho a saber ainda, e sei que quanto mais sei, mais percebo que tenho a saber, e mesmo o pouco que sei, o sei de forma incompleta pois a realidade me esconde a possibilidade de tudo saber, e mesmo que tudo saiba, eu sei que nunca com certeza poderei saber que tudo o que sei é exatamente o tudo que existe para se saber acerca de algo, a realidade por si só me impossibilita. Sei que todo conhecimento acerca do real é incompleto, incerto, distorcido, aproximado e simplificado de alguma forma. Copiarei Karl Popper com “Eu sei que (quase) nada eu sei.”, e desta forma ainda acabamos com o paradoxo do “Eu sei que nada sei” do grande Sócrates.
Verdade neste texto não é a verdade o oposto da mentira, é sim a verdade objetiva, real, absoluta em si mesma, única, diferente por completo de crença subjetiva, ou de indução, não sendo pois a verdade acreditada, por mais que acreditemos nela ou em algo como se verdade fosse, mas a verdade real, um determinado “ponto em pleno espaço-tempo absolutos e não relativos, difícil assim (praticamente impossível) de ser percebida por completo. Desta forma a verdade não é por si só evidente, por mais que a creiamos ou a desejássemos evidente, mesmo que evidente fique depois que a descubramos em parte, mas em parte, como oculta, sua evidência pode nunca ser evidenciada por experimentos.
Assim existe uma grande diferença entre verdade e certeza, por mais certeza que tenha que a verdade exista, é verdadeiro que a certeza nunca será completa.
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