Esperança

Vivo em razoável desesperança, sem ser, contudo, algum desesperado. Ao longo do meu viver abri mão de quase todo sentido ou sentimento de esperança, em especial daquela esperança que de mim diretamente não dependa. Impossível, pelo menos para mim, abrir mão de toda e qualquer esperança, pois que ainda busco minha humanidade, porem, daquelas esperanças que de mim não dependam para o seu alcance final, abandonei-as pela estrada do viver, ou pelo menos tentei abandoná-las. Isto não me faz melhor e nem pior do que qualquer outro, mas retira de mim a dor da espera, em alguma esperança, que pode nunca acontecer, e desta forma não sofro pelo que de mim não dependa. Esperar faz parte natural de meu dicionário do viver, mas esperar é uma necessidade física para que as coisas possam acontecer, entretanto esperar não significa ou nunca significou ter esperança de algo.


Encontrar a desesperança, não significa imergir em desespero. Não sou desesperado, pelo contrário, com a desesperança encontrei um novo nível de paz em meu viver, amo o que tenho, busco e trabalho para que as coisas aconteçam, me esforço para construir o que queira e o que entendo ser bom ou necessário para mim e para a humanidade, mas não empenho esperança alguma sobre aquilo que esteja fora do escopo do que possa eu fazer, ou ajudar a fazer. Pode parecer esquisito neste momento, mas como humano torço para que certas coisas aconteçam, mas torcer não é ter esperança, esperança é algo maior, é algo em que depositamos fé de que por alguma causa algo venha a acontecer, torcer é esperar que algo aconteça, sem o vínculo forte para que algo ou alguém faça aquilo acontecer. Um exemplo simples, mas forte, é a gravidez. Uma gravidez necessita de seu tempo médio, este tempo pode variar, e varia é claro, mas necessita deste tempo. O filho ou nascerá ou será perdido, ou nascerá bem ou com alguma má formação, e a esperança em si não mudará nada. Como humano, um filho é sempre muito importante (para mim é o que há de mais importante), é impossível ser totalmente indiferente durante a gravidez, por isto é normal torcer, e torci muito durante a de meus filhos, mas com o cuidado de não ter esperança de que algo ou alguém poderia fazer tudo correr bem, apenas os cuidados pessoais, médicos e de alimentação deverão ser levado a risca, e ai é torcer muito para que eles possam nascer, ao tempo, bem e com saúde. 
Mesmo para aquilo que esteja parcialmente sob meu alcance, uma vez que nunca estaremos sob total domínio de nada, pode ser que nunca aconteça, ou que aconteça fora do prazo necessário, ou mesmo que aconteça incompleto ou com falhas, por uma infinidade de causas externas a mim, agora imagina sobre aquelas coisas que não estejam sobre minha capacidade conseguir ou realizar. Esperança é um passo a mais para perto do sofrer, então preferi retirar esta porta do meu caminho.

Abrir mão da esperança não pode ser confundido com inação. Pela desesperança me dedico mais por fazer, por tentar transformar, por agir e por lutar, na certeza que pode ocorrer de nunca conseguir o desejado, mas na certeza de quem tentou, se dedicou e se expôs pelo que deveria. 

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