A morte é um fato, mas em geral ninguém quer morrer
O homem, pelo menos em geral os com um mínimo de saúde e com suas necessidades e liberdades minimamente atendidas, com sua condição física, biológica e mental equilibrada, tem o claro desejo de não morrer. Este desejo é natural e deve provir naturalmente do instinto de sobrevivência e da conservação da vida. Em verdade somos todos fatais, a morte é nossa contínua companheira, desde nossos primeiros instantes até que finalmente ela prevaleça. No fundo não queremos morrer, mesmo aqueles que a aceitam como um fato verdadeiro, como uma fatalidade da qual não podemos fugir eternamente. Mesmo aqueles que se dizem religiosos ou místicos, e que se dizem assim crentes de algo “depois”, de algo além do aqui, que repetem que estamos aqui somente de passagem para algo “melhor”, mesmo estes não querem morrer, e isto é natural, o instinto em lutar pela vida, pela sobrevivência, é muito forte, e no fundo, subjetiva e cognitivamente, sempre existe algum lugar para a dúvida. E depois da morte?
A vida, a essência da vida, a luta por ela, pelo menos em seres vivos com alguma complexidade neural é algo comum ao instinto natural de todos nós. Eu não sou diferente, minha gata também não, no geral ninguém o é, e aqui o termo “ninguém” é amplo, escopa muito mais do que apenas os irmãos em espécie, mas muitas espécies primas, cabendo lembrar que entendo que todas as espécies vivas ou que já viveram, são espécies primas, pois que em algum lugar do espaço-tempo “passado” dividiu com nossa espécie, e assim conosco, genitor ou genitores em comum.
O desejo pela vida, por uma vida, e em geral o desejo por uma vida sempre melhor, é natural, e desta forma é natural que muitos e muitos sonhem acordados, e que aceitem como verdade algo sem evidência alguma, e sob muitos enfoques, até mesmo sem lógica natural alguma, simplesmente porque o nosso instinto de sobrevivência contamina e cega de tal modo, que criamos este mito, esta lenda, esta estória, o da vida depois da morte, o da eternidade
espiritual, e a aceitamos como possível, e que por outro lado ajuda psicologicamente quando da perda de algum ente amado, de algum verdadeiro amigo, pois que nos permite, iludidos, acreditar que ele ou ela está em algum lugar melhor, que os poderemos reencontrar no futuro, e até mesmo permite a ilusão de que possam eles estar nos vendo e até mesmo nos ajudando. Duplo alvo com uma única criação.
Eu aceito, ou creio que aceite, bem a morte, mas como já dito anteriormente, não a desejo. Sei de que dela não escapo, que fiz um pacto com ela ao me formar, ainda no útero de minha mãe em um ser mental. Creio que estou bem preparado para me ir em definitivo para o eterno nada que já fui um dia, e para que meus elementos e partículas sejam de novo distribuídos pela existência natural, mas sei também que nunca estarei totalmente preparado para a morte dos que amo, dos que gosto, dos que respeito, de meus filhos, esposa e amigos. A dor da saudade me será algo marcante e constante. A morte é um fato real, mas que em verdade ninguém a conhecerá plenamente em primeira pessoa.
A morte é tão certa e irrefutável, tão garantida, que para garantir certo ar de misticismo, tiveram que arrumar uma morte para o hipotético deus homem, pois que sabiam da impossibilidade de garantir-lhe vida eterna, sequer garantir-lhe vida longa, e nada melhor para dar mais luz a esperança natural de uma vida futura melhor do que esta, do que uma ressurreição em algo “espiritual”. Para mim, fico imaginando que melhor prova da divindade daquele apresentado como deus homem, que não fosse exatamente o oposto, a eternidade do viver, que ele não morresse, que ele estivesse vivo até hoje, e fazendo aqueles ditos milagres maravilhosos, mas era obvio demais para todos que isso seria impossível, e assim ele teve de morrer, e cedo, antes mesmo de correr o risco de alguma morte acidental ou por doenças.
A esperança no que se deseja, cega a razão, a razão pura e simples impossibilitaria crer na imortalidade de qualquer tipo, ou mesmo em qualquer ressurreição, mas a esperança aliada e reforçada com o instinto de sobrevivência, para muitas pessoas, põe de lado a razão ou mesmo a total falta de evidências. “O homem subjetivo, sem respaldo da razão, transforma seus sentimentos num critério do que deve ser. – Ludwig Feuerbach”.
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Sou um ateu racional e um livre pensador, ou melhor, eu sou um ateu que tenta ser (que se compromete a ser) racional e livre pensador.
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