Sou, e por isto sou passível de culpabilidade ou responsabilidade


Sou o que minha mente me faz. Ninguém é independente de sua biologia neural, ninguém é senão pelo que de seu cérebro emerja, apesar de que de certo modo somos escravos de nossa biologia neuronal, ninguém de mínima saúde mental, pode pura e simplesmente se dizer servo absoluto ou sujeito única e absolutamente ao senhor cérebro, simplesmente por que sendo este plástico, ele é sempre afetado e “redesenhado” também conforme o que desejamos ser, conforme o que estudamos e que nos pomos a construir. O cérebro está em constante reverberação com o feedback positivo de realimentação para refletir o que ele é, mas também a se redesenhar pelo que de feedback receba de nós mesmos e infelizmente, muitas vezes, pelo feedback que receba dos outros, da mídia, de catequeses, da sociedade e outros feedbacks mais. De cérebro saudável ou com alguns problemas neuronais, sou o que meu cérebro faz de minha mente. Portanto sou sempre passível de responsabilidade por tudo o que faço, por tudo que induzo aos outros a fazerem, ou mesmo por tudo que me negligencio de fazer pelo bem social.

Em decorrência da complexidade astronomicamente alta de um circuito cerebral completo, não consigo crer em um cérebro perfeito. Não bastasse a já inimaginável rede neuronal em si, onde apenas um centímetro cúbico de cérebro possui muitos milhões e milhões de conexões neuronais, existe também todo o problema fisiologia neuronal, da bioquímica e da físico-química envolvida, e mesmo do eletromagnetismo interno, e para agravar esta complexidade ainda existem as interferências externas (do meio físico), a influência do meio experimentado, da própria alimentação, de medicamentos drogas ou álcool e muitos outros.  

Quando realizo um ato, ou quando me omito de realiza-lo quando deveria, sou eu quem o faço, ou quem abdica do dever de fazê-lo, com a exata mente que tenho, gerada pelo cérebro que possuo. Disfunções mentais existem, como existem disfunções orgânicas, todos em algum nível as temos, não responsabilizar alguém por isto é passar atestado de impunidade a todos, posto que sempre agimos baseado na mente que temos naquele exato momento, o que reflete o estado “físico-químico-biológico” do cérebro também naquele exato instante, desta forma todos seríamos automaticamente inocentados de qualquer ato ou indução. O cérebro é meu, a mente é minha, o ato é meu, então a responsabilidade é minha, independente de possíveis agravantes ou atenuantes. O próprio livre arbítrio na sua essência não existe, posto que é o cérebro, e os muitos de nós que residem em nossa mente, que brigam continuamente por um lugar ao sol, que decidem agir ou nos fazem crer na existência completa de um total livre arbítrio. Não vou me aprofundar no livre arbítrio, ótimos livros sobre neurociência falam muito melhor do que eu neste assunto.


O bem-estar social deve ser mandatário e preferencial acima de qualquer bem-estar individual. Aquele bem-estar coletivo deve estar acima das minhas limitações ou disfunções ou mesmo dos meus desvios mentais, e devo assim ser responsabilizado sempre que cometer atos contra o bem-estar social, ou mesmo sempre que me omitir de realizar algo por este bem coletivo.

Entendo que é triste quando falo em responsabilizar alguém que estaria fora de si, transtornado, ou tomado por algum surto mental, mas no fundo todos somos passiveis destes atos e a sociedade deve ser resguardada acima de tudo. Todos padecemos algum nível de falha cerebral, e nem todos partimos para a realização de atos torpes ou para a omissão criminosa.

Cada um deve ser profundamente avaliado antes de ser penalizado, isto é um direito inalienável a todos, mas nada tira a responsabilidade pelo ato praticado, mas aquele que praticou atos contra o bem-estar social deve ter seu ato avaliado quanto ao alcance final do mesmo e também sempre que possível quanto a intenção, deve também ser avaliado quanto o respeito a vida, a probabilidade de repetir tal ato, ou praticar algum ainda pior, e deve ter também avaliada sua capacidade de recuperação, de ressocialização, mas jamais devemos permitir que um ato praticado deixe de ser avaliado, e devemos ter a plena convicção de que a sociedade é o bem maior a ser respeitado, a ser salvaguardado, e assim todos os atos indignos, antissociais ou perversos à vida, ou a omissão quanto a realização de atos que evitassem ou minimizassem os negativos, devem ser sim analisados, independente da sua condição mental de momento, ou então devemos ter a certeza que todos os atos serão não penalizáveis, por decorrência, uma vez que, repito, agimos, somos e vivemos o que nossa mente é naquele exato momento, e esta reflete diretamente o estado da complexidade de nosso cérebro, naquele exato momento, e finalmente porque não existe cérebro perfeito ou mente perfeita.

Sinto que eu mesmo, ou aqueles que mais amo, podem acabar sendo impactados pela minha proposição, mas só me resta lamentar, o social deve ser sempre mais importante que o individual, ou pelo menos esta é a minha forma de ver a humanidade e que me cumpre realizar.


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Sou um ateu racional e um livre pensador, ou melhor, eu sou um ateu que tenta ser (que se compromete a ser) racional e livre pensador.

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