Nosso sexo biológico é apenas parte do que somos em gênero e orientação afetiva-sexual

Nosso sexo biológico é apenas parte do que somos em gênero e orientação afetiva-sexual, em essência.

Nosso sexo biológico é apenas parte do que somos “sexualmente” em essência, do que somos quanto a nossa orientação de gênero, quanto a nossa expressão de gênero, e quanto a nossa orientação sexual ou envolvimento afetivo. Somos mentais, somos subjetivos, somos diferentes a cada instante, somos muito mais inconscientes do que gostaríamos de ser, somos múltiplos, e somos a emergência, de momento, da funcionalidade e do status de configuração do que eu costumo chamar de nosso circuito neural, em seu sentido mais amplo, mas somos um pouco mais do que o mero circuito neural em si, somos a bioquímica geral e pontual que nele atua, somos os campos eletromagnéticos que este mesmo circuito gera, o que o Nicolelis chama de parte analógica de nossa mente, de nosso cérebro, e por tudo isso somos complexos. 

Pelo acima citado, nosso ser não se resume a expressão física, à genética, ao aprendizado, ao construído, mas sim se compõe da inter-relação disto tudo, e não limitado a apenas isto. Sendo assim, por que será que pessoas, muitas delas com boa capacidade intelectual, as vezes até acima da média, e com boa cultura, se comportam de forma ingênua, de forma, eu diria, inábil (aqui com o sentido do de quem ignora), não porque não tenham acesso às informações, mas porque abrem mão das informações mais sérias, pelas informações mais conservadoras, mais falaciosas, ou mais imprecisas? Nosso comportamento “sexual” (e tudo que o envolve, em todos os espaços mentais), a realização mental de nossa sexualidade, o ser sexual que somos, o ente humano que se assume naturalmente, entre outras coisas, como um ente textualizado em muitas facetas acerca de seu ser, é o que é, pelo que nossos cérebros estão a cada instante, e não, e nunca, somente, pelo que seus órgãos sexuais, pênis ou vagina, ou mesmo por possuírem um cromossomo XX ou XY em sua genética, o fazem ser (pois que por si só não fazem todo o trabalho, na verdade fazem muito menos do que superficialmente muitos creem fazer). Desta forma é tão facilmente perceptível o conceito de gênero, diferente do conceito de sexo biológico (e diferente também do conceito de orientação afetivo-sexual), que realmente me surpreende como algumas pessoas não se prestam a perceber isso.

Vamos abster por algumas poucas palavras de falar de sexo, gênero, afetividade e afins, e vamos apenas pensar, o que é livre, secreto, e fácil, no porque somos o que somos. Será que é porque representamos algum projeto travado? Por que será que tem dias que estamos mais alegres outros dias mais tristes? Por que será que uns são mais naturalmente alegres enquanto outros tendem a ser naturalmente mais tristes? Por que uns são mais revoltados? Por que outros são mais “workaholic” enquanto outros são mais “laysefair”? Por que será que eu gosto de um tipo de música e outros amam outro estilo? Por que será que eu sou amante da leitura e outros são amantes de ouvir música, viajar, papear, ou assistir bons filmes? Por que eu adoro um tipo de alimentação e outros preferem outros tipos? Por que eu adoro vinho, enquanto outros amam cerveja, vodca, sucos de frutas e etc.?  Por que uns são mais ousados, agitados, corajosos, enquanto outros são mais recatados, medrosos, tranquilos? Tenho a certeza que de alguma forma passou pela cabeça dos que se atreveram a pensar, entre outras possibilidades, as de que nossa mente é assim (ou de forma mais liberal porque somos assim), e também de que de alguma forma a cultura, a sociedade, a sorte ou o azar de estarmos em grupos sociais contextuais diferentes, acabou ajudando a nos moldar assim. A resposta passa por aí também, é um pouco, ou talvez um muito, disto mesmo, e muito mais. Vocês estão certos. Somos um misto do que a genética nos moldou, do que a sociedade e a família nos induziram a ser, um pouco do que gostaríamos de ser, um pouco do que nossa tendência de ser se fez, e um pouco da sorte ou do azar daqueles múltiplos seres que nos compõem, onde um ou alguns deles conseguiram se expressar de forma mais forte e clara. Somos assim parte determinação e parte construção, parte formação e parte desenvolvimento, mas somos muito mais complexos do que simplesmente isto, somos seres reais, realizando uma biologia real, em uma sociedade real, em um mundo real, possibilitando a emergência real do que somos, em tudo o que somos, e também, é lógico, no que concerne a sexualidade, gênero e afetividade. Mas em geral, tudo isto se resume, sem tentar ser reducionista, ao estado de momento de nosso cérebro, baseado em todo o ciclo de desenvolvimento estrutural bioquímico dele, ao longo de nossa vida. Nosso cérebro é plástico, construímos constantemente novas ligações neurais, destruímos outras, reforçamos algumas mais, e enfraquecemos outras, além de outras ações bioquímicas, e isso é bom, é isso que nos faz ser quem somos, é isto que nos permite aprender, e ao longo de nossa jornada, passamos fases em que este processo (de redesenho de nossas ligações neurais) acontece de forma mais radical, como logo depois de nascermos, no meio de nossa infância, no final de nossa adolescência e por aí vai, nestes momentos o processo de redesenho do circuito neural ocorre de forma bem acentuada, mas ao longo de toda a nossa vida este processo ocorre de forma mais lenta, mas posso admitir que quando deitamos para dormir, já somos mentalmente diferentes do quando havíamos acordado, pois que ao longo das horas em que estivemos acordados, estávamos ativamente processando e atuando em nossas ligações neurais.


Assim sendo, fica um pouco mais fácil e natural entendermos porque cada um é cada um, e porque somos hoje deferentes do que éramos a alguns anos atrás. É nosso cérebro, a cada momento, quem nos faz ser quem somos. Tenho alguma certeza que a maioria consegue entender isto, consegue aceitar isso, agora, por que cargas d’agua, algumas destas mesmas pessoas, muitas para meu entender, não conseguem aceitar que o mesmo é valido para nossa sexualidade, para nosso gênero, para nossa afetividade, para nosso realizar e demonstrar o que, e o quem, somos. Nascemos física e biologicamente com um sexo, excetuando-se aqui raras variações de dupla representação física dos dois sexos, ou de variações como o xxy, entre outras. Isto é parte da história de cada um de nós. Sim talvez seja uma parte importante, mas apenas no início, bem no início, pois que é o cérebro que passa a ter importância real assim que superada a fase bem inicial das ligações e desligamentos neurais, quando da chegada ao mundo externo. Desta forma o gênero não nasce pronto, não obstante quantos irresponsáveis, desalinhados com a ciência, possam tentar demonstrar falaciosamente ou defender de forma absurda e insensata. Dizer que o gênero não nasce pronto, não significa dizer que tenhamos total controle sob sua construção, ele se desenvolve, ele se estrutura muito pelo que nosso inconsciente processa. A teoria de gênero, a identidade de gênero, ou qualquer outra denominação, apenas quer dizer isto, somos o que somos, porque nosso cérebro é o que é, e não porque nosso corpo físico assim nos obriga a ser, ou nossa genética nos forcaria a ser, ou nossos pais, tutores, catequistas, ou doutrinadores acreditam que devêssemos ser. Nossa mente é plástica, e o é em todos os sentidos humanos, e também no tocante ao gênero. Isto não significa que a família ou que a sociedade não interajam, sim, até mesmo por reconhecer que a sociedade interfere e influencia, mas não pode ela, e não deve, sob pena de criar um ser desalinhado com o que ele realmente tende a ser, doutrinar, forçar alguém a ser o que não é, e não o é porque simplesmente não queira ser, mas porque ele é a emergência complexa de uma mente não menos complexa, de um cérebro não menos complexo, de uma interação bioquímica não menos complexa, e assim por diante...

É sensível que percebamos que sexo biológico é uma coisa, e que identidade de gênero, que expressão de gênero, e que orientação afetiva-sexual são outras coisas, todas aparentemente relacionadas ao sexo, mas no fundo independentes, com variações e inter-relações não menos complexas. Lidar de forma humana, socialmente digna, de mente aberta, com um compromisso honesto, sincero e sensível, em especial com as crianças, no tocante a este assunto é algo que devemos ter como interesse para elas possam crescer plenas de si, e respeitando as demais.



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Sou um ateu racional e um livre pensador, ou melhor, eu sou um ateu que tenta ser (que se compromete a ser) racional e livre pensador.

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