De onde vem o mal

É fácil cair na tentação de demonizar o mal, principalmente enquanto deificarmos o bem, a bondade, e o amor, enquanto atribuirmos a algum ser místico-transcendental, o amor, ou pelo menos a fonte e a origem deste amor, ou mesmo a fonte natural da paz, da harmonia, da felicidade, e da nossa humanização, quando em verdade tanto estas como aquele (o mal) são naturais, humanos, animais, e produzidas por estados momentâneos de nosso circuito bioquímico cerebral que possibilita a emergência de nossos seres mentais.


Então, de onde vem o mal?
Do mesmo lugar de onde vem o bem. Vem de nós mesmos, vem da natureza, vem do animal humano que somos, vem enfim dos seres que nos compõem.

Perdemos tempo perguntando “de onde vem o mal?”, pois cremos saber a resposta de que o bem vem de algum deus. Se deus nos dá o bem, se deus é por si só o próprio bem, a origem ideal e transcendental de todo o bem, acabamos, muitos de nós, caindo na falaciosa crença de que o mal, a dor, o ódio e as guerras, provenham de algum diabo, satã, de algum ser malévolo por natureza, e assim, da mesma forma que criamos um deus a nossa imagem e semelhança do que desejamos de bem, dualmente, criamos também a nossa imagem e semelhança do mal de que somos capazes, um deus oposto, o do mal, e desta forma podemos diminuir, transferir ou dividir, nossas responsabilidades e culpas pelo bem que não fazemos, ou pelo mal que praticamos, pois não sendo criação nossa este mal, mas sim de algum ser maléfico por definição, nossa culpa se reduz a uma mera fraqueza e tentação, e não a alguma maldade nossa. Apenas fazemos um mal que não é nosso, e podemos assim, a qualquer momento pedir perdão e coragem ao deus do bem, pois que em essência não praticamos aquele mal, e sim, fomos de forma induzida utilizados pelo ser absoluto do mal.

Ledo engano. Romantismo puro assim pensar. Pensamos que somos a criação de um deus do bem, criados a sua imagem e semelhança, mas somos, como mortais, nesta passagem, tentados por algum deus do mal, e as vezes por fraqueza, caímos em tentação. Acreditamos que um livre arbítrio, que não temos em verdade, nos faria escolher entre este ou aquele, entre um bem que nos faria conhecer, em breve, o reino dos céus, ou entre o mal que nos levaria, em breve, após nossa morte, a uma viagem aos confins da profundeza do inferno.

O medo, este sim, não nos permite pensar com liberdade, com profundidade, e ver, discernir e perceber, que tanto um quanto o outro, são criações nossas para justificar nosso desconhecimento, e dar assim alguma “razão” para viver e ilusão de algo após a morte.

Hoje alguns trocaram as entidades sagradas ou demonizadas, na resposta a questão de qual a origem do mal, para por a culpa na sociedade, no materialismo, no simples abandono do deus do bem, como que respondendo, eu não sou culpado de a sociedade me fazer assim, entretanto, de novo, é mais uma fuga da realidade. O mal, como o bem, o respeito humano, como o niilismo absoluto têm origem em nós mesmos, uma vez que a sociedade é reflexo do que somos todos nós. Se a sociedade é má, é porque somos nós maus, medrosos, interesseiros, ou coniventes com ela. Ela o é porque aceitamos, porque a aceitamos assim, porque não ousamos transformá-la, concordamos com ela ou nos curvamos a ela por medo, interesse, descaso, ou conivência ao que ela é, não como entidade totalmente autônoma em si só, mas porque nós, ou alguns de nós, a sustentamos ou somos por ela sustentados para o aceitar.

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