Liberdade e transformação

Toda liberdade requer alguma racionalidade, pelo menos se pensamos em uma liberdade digna e social. Apenas me liberto, nos libertamos, pela razão, pela ousadia, e pela transpiração, mesmo que apenas parcialmente me liberte, pelo ser social que sou e pelo tipo coletivo de vida que levamos, mas também não me liberto dos grilhões que me sufocam, das amarras mentais que me refreiam e reprimem, das catequeses que me convenceram por repetição, das limitações que me induziram, pois que por mais forte que seja o desejo de ser racional, fui ao longo do tempo corroído e corrompido por falácias que entendi verdadeiras, por factoides que assumi sérios, por falsos saberes que acabei aceitando sem evidências alguma, e mais ainda porque sou muitos e sou complexo, sedo assim, também, a emergência de seres que desconheço. Sou também composição genética que construiu parte do que sou. Sou assim determinado pela composição genética, mas pela plasticidade do cérebro, sou também construído pela convivência e pela participação social, e sou também parte do que desejo ser.
Nunca serei um ser construído plenamente, pois que mutável mentalmente, sou a cada novo instante um pouco diferente do que era no exato instante que se foi. Sou desta forma, muito mais subconsciente do que gostaria de ser, sou mais inconsciente do que deveria ser, mas se alguma liberdade é possível, esta se consegue no âmbito da razão. A razão não é minha, não é sua, ela é, talvez, uma das poucas coisas universais na existência humana, ela transcende o humano, se existirem outras vidas inteligentes, poderemos perceber que a razão, em sua essência, é algo comum a todos. A razão não é algo que se pegue, mas é algo que se aplica, que se vive, que se usa. Ser racional não é fácil, eu nunca disse que era, mas entendo ser o único caminho para alguma liberdade, a liberdade racional, a liberdade lógica, a liberdade humana, mas que não pode ocorrer a distancia do amor, mas do amor racional. A forma em si de pensar, os conhecimentos, a modelagem podem ser diferentes, mas a essência da razão e do lógico deverá ser a mesma, assim, apenas a razão pode nos unir e nos dar a liberdade coletiva que buscamos e necessitamos, e pode nos levar a um amor equilibrado. A razão pode não ser um ente material em si, mas é real enquanto emergente de entes materiais reais.

Liberdade sem razão é a destruição da nossa humanidade, de nossa humanização, e é o colapso de nossa sociedade. A liberdade sem amor não é liberdade, é a ditadura do saber e do conhecimento. Sem razão construímos o caos em plena realização de nosso ser. Sem razão tornamo-nos marginais de nós mesmos e por decorrência passamos a agir como vermes sociais, contaminando e destruindo o que de humano possa existir no social. Sem amor somos monstros de frieza com ares esnobes. Sem Razão e sem amor somos desumanos que se acham humanos. 

A razão, a racionalidade, dá limites, sem tolher a liberdade, pois torna natural ser livre, ser liberto, em pleno escopo social. A razão faz da liberdade algo natural no que deveria ser, no que devemos ser, e no que é digno que sejamos. Toda Razão impõe um que de amor, ou a frieza e a insensibilidade da razão pode nos tornar escravos do saber e do conhecer, e nos transformar em desumanos racionais, onde o que deveria ser, independente do que podemos ser, ou do que nosso semelhante necessita que seja, acabe por nortear todas as nossas ações. Somos humanos e por isto naturalmente limitados, assim levar a razão a ponta de faca é se destruir pela mesma arma que nos defendemos. Somos humanos que pelo amor deve amar a razão, deve buscar a racionalidade, mas que também por esta razão deve escolher construir o seu amor, buscar aquele encanto que, mesmo sendo animal, é algo que nos une, que em plena realização do real nos faz mais unos neste mesmo amor. 

Amor sem razão, fraqueza que nos destruirá e nos colocará, mais cedo ou mais tarde, nas mãos de inescrupulosos.
Razão sem amor, rudeza do ser.
Amor racional e razão amorosa, o segredo de ser livre sem deixar de ser humano, e ter alguma consciência de que a liberdade não pode ser absoluta, em si, no âmbito pessoal e individual, e sim ser maximizada e valorada como positiva e necessária no escopo da dignidade social, do viver coletivo, e do realizar de nossa humanidade grupal. 

Somente com razão e no uso do amor podemos nos reconstruir e trabalhar pela transformação social que é necessária, pelo bem estar humano, pela inclusão dos milhões de abandonados e excluídos por este mundo a fora, pela socialização livre e liberta do viver humano, e pelo bem estar social de todos.

Liberdade? Somente com razão banhada em sumo de amor. Transformação? Somente com amor, banhado no sumo da razão. Liberdade e transformação. Liberdade para transformar, e transformação para libertar, somente com ousadia, coragem, atitudes, união e ação, no uso pleno da razão e do amor.

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