Conhecimento
Mesmo que todo o meu conhecimento seja mutável, que seja ele muitas vezes mera verossimilhança com o que de real exista, que seja subjetivo, e em certa medida seja ele corrompido pelos meus preconceitos, minhas crenças, e minha forma imperfeita de pensar, entendo ser uma tola ilusão não crer que a verdade exista em sua total realidade. Se deus existisse, e se fosse ele realmente onipotente e onisciente, a verdade absoluta e única seria aquilo que ele perceberia, não aquilo que ele gostaria ou esperaria, mas sim aquilo que ele estando fora de nossa realidade universal, poderia perceber, observar ou captar.
Sendo eu incompetente para afirmar que absolutamente saiba tudo, ou algo, ou que tenha o conhecimento absoluto e total do que quer que seja, não significa, e não pode significar que não deva buscar o conhecimento, incompleto que seja. Se em absoluto não possa garantir que conheça todo o submundo que movimenta cada experimento, se não posso garantir tudo que movimenta as engrenagens de cada fenômeno, posso, e devo, baseado em experimentos, em refutações, em modelagem, e em racionalidade crítica buscar conhecer sempre e cada vez mais do que apenas aquilo que o fenômeno perceptivo possa me mostrar, certo de que amanhã, ali na frente, seja obrigado a largar toda ou parte deste conhecimento, por outro. O ceticismo deve ser um método, uma ferramenta, e não uma regra fundamental. É lógico que mesmo que semanticamente possa questionar tudo, possa duvidar inclusive que exista, na prática sabemos muitas coisas. Sabemos a ponto de em alguns casos não nos expormos a fazê-lo, como exemplo: sempre posso questionar que não possa garantir que a gravidade atua em todos os locais, pois que não posso provar que em absoluto em todo espaço-tempo haverá gravidade, entretanto ninguém de mente minimamente saudável se jogará de algum prédio por acreditar que talvez ali, com ele, a gravidade não atuará. Sendo o fogo imaterial enquanto substancia própria, novamente, ninguém no domínio de sua consciência se lançará sobre uma fogueira ardendo somente porque semanticamente não possa provar que a reação química exotérmica que gera o “fogo” sempre queimará. Desta forma, falar que nada sei, que nada sabemos, é mentira, sabemos de muitas coisas, para muitas delas não sabemos os mecanismos reais que dão sustentação a ela, como no caso da gravidade, sei que ela existe, apesar de na prática não saber seu real funcionamento, será ela uma deformação espaço-temporal, será ela um efeito do gráviton, ou será ela a soma dos dois, ou mesmo nenhum dos dois, sendo algo diferente? A teoria das cordas, será ela um modelo físico, ou apenas mais um modelo matemático que se adequa a cumprir um papel de se adequar ao que gostaríamos que fosse, mas o que mais me encanta na teoria das cordas, é que ela como teoria, permite a existência de algo antes do bigbang, possibilitando uma infinidade de bigbangs, fazendo dele algo natural, o que retira a carga de precisão de que o universo seja finamente ajustado em uma única experiência, uma vez que podem ter existido uma infinidade de bigbangs, cada um levando a ajustes diferentes, como estes universos bolhas são quase infinitos, a probabilidade de que um entre estes quase infinitos universos tivesse o nosso ajuste fino passa a ser algo quase que obrigatório.
Entre muitos cuidados que devemos tomar, um deles é quanto a indução, o mundo é caótico, e nos sentimos tentados a transferir um conhecimento a muitas coisas por mera indução, mas a indução não é, e não pode ser prova de nada, pode ser, e muitas vezes é, uma curiosidade a ser estudada, testada, experimentada e se possível refutada. A indução pode abrir portas para um caminho, mas por si só jamais será prova de nada. Outro cuidado é não confundir, ou cair na tentação de achar que o fato de eu não ter resposta ou prova para algo, possa significar que este algo seja transcendental, não, significa apenas o que é, que é um algo para o qual ainda não tenho respostas ou provas e que em alguns casos jamais terá provas simplesmente pela sua impossibilidade, como por exemplo provar que não existem elefantes de mármore que voam, soltam fogo pelas trombas e são capazes de falar com pessoas, a prova da não existência de algo em um escopo aberto é praticamente impossível, em escopos reduzidos a prova de não existência passa a ser mais fácil, eu posso provar que não existe aquele estranho elefante em meu quarto, mas que ele não existe no universo inteiro eu não consigo. Eu posso provar que se deus existe ele não é onipotente, mas não posso provar que ele não existe. Se ele existe, ele não pode ser onipotente, pois seria capaz de enumerar uma série de impossibilidades para ele, como por exemplo: Que ele não pode criar uma pedra tão pesada que ele não possa mover, se ele criar, ele não poderá mover, e assim ele não será onipotente, se não criar, não é onipotente também. Segundo as regras de Euclides, em um espaço euclidiano, em um plano euclidiano, ele não poderá criar um triangulo cuja soma dos ângulos internos seja diferente de 180, como por exemplo 60 graus, ou criar um triangulo, que deve ter três lados, com mais de três lados, ou criar um triangulo com dois lados. Então a prova da impossibilidade, em escopos universais é muitas vezes impossível, mas quando delimitamos este escopo, algumas vezes podemos provar uma impossibilidade. Isto é também conhecimento, pois que representa uma verdade, uma mentira, uma impossibilidade, um fato, um...
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