Pensar e filosofar


Possivelmente posso estar errado, mas não concordo com a visão de que para bem filosofar devo obrigatoriamente aprofundar minha leitura dos livros considerados seminais dos grandes pensadores, atuais ou dos que já se foram.

Entendo, pelo contrário, que me aprofundar nos grandes pensadores do passado e do presente, é sim interessante, mas não necessariamente para me fazer melhor pensar, e sim no tocante apenas ao aprendizado de sua historicidade, para entender como cada uma desfiava seu novelo pensante, como buscavam sustentação para seus argumentos, bem como pelo aculturamento das suas linhas e sistemas filosóficos. Não penso para copiar ninguém, não me empenho em minhas críticas e minha lógica do que percebo (buscando sempre ir além da superficialidade dos fenômenos), para ser rascunho de nenhum destes ou daqueles pensadores.

Por mais interessantes que tenham sido seus insights, por mais curiosos que tenham sido seus pensares e a construção de seus sistemas, os pensadores de antes não tinham maiores visões e conhecimentos científicos, fazendo de muitas de suas linhas de sustentação um tanto quanto, no mínimo, inapropriadas, e muitos dos seus focos representam problemas e interpretações datadas no tempo e no espaço. A filosofia não pode, para mim, ser em si o motivo, e sim um meio, uma ferramenta de suporte e apoio, na busca de uma felicidade pessoal e social, ou no mínimo de uma minimização do sofrimento e das tristezas humana e social. Entendo que toda e qualquer abordagem pensante necessita cada vez mais de suporte científico, ou estaremos abertos a cair em fácil abordagem descolada do que se sabe, mesmo que incompleto. Necessitamos da ousadia, da coragem, da honestidade e da interdisciplinaridade para aprofundarmos novas trilhas, novas jornadas, e até mesmo se possível, de formas de análise crítica e racional, e não devemos recair diretamente em formulas interpretativas datadas ou desgastadas. Em segundo lugar, por princípio, não acredito em ninguém que se diga alinhar totalmente a uma única linha de pensar filosófico, ou mesmo que se arvore a se identificar totalmente em um sistema único, pois entendo que estas linhas e sistemas filosóficos eram, ou são para os pensadores de hoje, o pensamento argumentativo ideal e natural de um pensador em especial, em sua defesa, em uma unidade localizada do espaço tempo que nos envolve. Somos múltiplos e complexos, e acredito improvável que nos enquadremos totalmente em uma linha única filosófica.
  
Por termos uma estrutura cerebral que o que tem de maravilhosa e complexa, possui de limitada, e por certa forma também incompleta e imperfeita, nosso cérebro possui uma grande plasticidade o que é para mim algo excepcional, mas sem jamais deixar de se ver envolto em suas próprias limitações e falhas. Baseado nesta plasticidade (e talvez não somente por ela), e em defeitos que acabam permitindo, no mínimo, sermos influenciáveis, podemos mudar constantemente nossa interpretação e somos a cada instante do momento presente que se realiza um pouco diferente do momento presente que já se realizou.

Quando leio os grandes pensadores, é mais para entender a forma como eles pensavam (ou pensam, os da atualidade) e encaravam a busca de suas soluções, do que a necessidade de aprender como devo hoje pensar.  Algumas vezes é também tão somente para provocar minha interpretação frente a argumentação de filósofos experientes e a me obrigar, sempre que necessário, repensar, no mínimo para confirmar o quanto estou seguro, se esta segurança é possível frente a minha interpretação e análise crítica e racional (até onde o racional possa ser aplicado) que estou construindo. Tenho uma característica, não sei se boa, mas gosto de tentar desconstruir todo pensamento, para melhor entende-lo, ou desqualifica-lo. Leio-os, também, mais para entender o momento histórico, e a localização “geoespacial” de cada pensador, e a forma como eles encaminhavam suas análises críticas ou racionais dos problemas e necessidades que agora enfrento, em um tempo e geografia específicos.

O pensar é livre, e o que é melhor é secreto, me permitindo toda e qualquer engenharia pensante, me permitindo caminhos que poderiam ser mal vistos, mas que enquanto análise pensante, posso ousar fazê-lo, para provocar e verificar o que realmente sinto, penso, entendo, e conheço sobre o que ouso pensar. O pensamento, livre e secreto, ainda é, e assim o será, por muito tempo ainda, se é que em algum momento a chegar teremos como rastrear o pensamento alheio. O pensamento só não é livre para aqueles que se omitem de pensar, para aqueles que cegamente seguem doutrinas lhes passadas, ou para aqueles eternos presidiários da imagem, falaciosa, da existência de algum deus onisciente, que lhes limite o pensar, por medo deste mesmo deus, que sendo onipotente acabará por lhes punir por pensar todas as linhas possíveis, em especial as mais absurdas segundo seus dogmas, ou que possam levar a uma não necessidade deste mesmo deus.


O pensar se divide em uma parte consciente e em outra parte inconsciente (que é de longe a maior porcentagem de todo e qualquer ser pensante), nesta última parte, mesmo nós, não somos donos deste pensar, ele segue leis e regras ainda totalmente “indesbraváveis” para nós. No tocante a parte consciente, entendo que este pensar é diretamente afetado pela nossa facilidade e bom domínio da linguagem, uma vez que o consciente segue uma linha descritiva argumentativa que se alinha, a maioria das vezes, muito fortemente a forma de falar e interpretar esta mesma fala. Esta é uma das grandes razões para que cobremos uma escola forte, quanto melhor me expresso e quanto melhor interpreto, melhor penso, na nossa parte consciente do pensar, ou pelo menos é assim que entendo o meu pensar, e talvez mesmo, de forma que não percebamos, na porção inconsciente do pensar. Não posso garantir que todos pensem conforme eu, e no fundo acho que seja ótimo isso, entendo que o cérebro em si é uma espécie de “ser” autodidata, que aprende a operar, guiado por funcionalidades primárias, mas que não necessariamente iguais, entretanto, creio que no geral, de alguma forma, funcionalmente possuímos uma linha de pensar algo parecidas, apesar de que operacionalmente, fisicamente, exerçam este processo por circuitos neurais diferentes, entendo que se duas pessoas pensarem exatamente a mesma coisa, por exemplo, algo bem simples, um objeto comum aos dois, o processo neuronal envolvido será operacionalmente diferente, até mesmo porque cargas emocionais diferentes existirão. 

Entendo que nem todo pensar é filosofar, mas todo filosofar envolve pensamento, mais ainda quando filosofamos no silêncio de nós mesmos, e envolve, mesmo que não saibamos, que não tenhamos acesso a ele, pensares inconscientes. Por isto devemos ter a ousadia e a coragem de pensar e aprofundar conscientemente nosso filosofar (mesmo que de repente seja o inconsciente quem nos maneja), posto que ainda é um ato totalmente discreto e que nos ajuda a nos conhecer em mais detalhes, a saber um pouco mais até onde somos realmente capazes de irmos, e de encontrar respostas racionais e/ou críticas para certos pensares que podem até mesmo nos envergonhar como humanos. Tenho pena apenas daqueles que por medo, preguiça ou temor a algum ser onisciente se abstêm de aprofundar suas análises críticas e racionais de temas polêmicos, ou mesmo daqueles temas que poderiam levá-los a certa vergonha ou mal estar em público. Pensar é livre e secreto, e nos ajuda a sabermos melhor, apesar de nossas variações, o que somos, e até onde realmente somos capazes de chegar.




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Sou um ateu racional e um livre pensador, ou melhor, eu sou um ateu que tenta ser (que se compromete a ser) racional e livre pensador.

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