O REAL EXISTE

O real não existe!?

Me custa entender e aceitar que alguns pensadores realmente creiam que a realidade não exista. O que mais me dificulta esta interpretação é entender quando estes pensadores, alguns deles grandes humanistas, acabam levando suas visões humanistas a um nível tal de antropocentrismo que acabam acreditando que a realidade somente existe para e pelo homem. Parece-me tão irreal esta posição, que me confunde esta linha argumentativa.

Entendo em minha limitada compreensão da realidade que esta é em sua essência total, plena e absoluta, apesar de que esta mesma realidade, tal como uma verdade maior e complexa, esteja afastada de nós, separadas por nossas limitações humanas, e que só a podemos realizar como resultado de nossa percepção subjetiva.

Nosso cérebro é limitado, nossos sensores que permitem nossa relação com o universo exterior são limitados, nosso poder de processamento mental é limitado, ficando desta forma limitada e incompleta a apreensão da realidade do existir. Tudo o que somos e toda nossa relação com mundo decorre de processamento mental, subjetivo, e sempre através de sensores biológicos, nós nunca temos contato direto e real com a realidade, com qualquer realidade, mas isto não implica que a realidade não exista, implica apenas que não somos capazes de nos relacionar com ela diretamente, mas sempre através de mapeamentos e processamentos mentais.

O que deve ser avaliado é a diferença de nossa apreensão da realidade ou de uma verdade absoluta que talvez venham a ser, entendo eu, eternamente incompletas e limitadas, e a existência de uma realidade verdadeira que ocorre independente de nossa humana existência.

O universo, como o conhecemos hoje, tem cerca de 14 bilhões de anos de existência. O ser humano como o conhecemos hoje não possui muito mais de um milhão de anos, ficando ainda mais limitado este período de tempo se nos apegarmos apenas ao homem moderno, que não passa de cerca de 200 mil anos. Existimos assim a apenas uma ínfima parcela do tempo total da existência de nosso universo. Desta forma o nosso universo existe sem nossa participação a cerca de 13 bilhões e 998 milhões de anos. Parece-me incoerente imaginar que durante este tempo a realidade era uma farsa.

Mesmo hoje em dia, temos nosso raio de alcance de visão limitado a cerca de 14 bilhões de anos luz de distância, mas muito provavelmente, o espaço total seja mais amplo do que este raio de 14 bilhões de anos luz. Assim, devem existir planetas, estrelas e galáxias totalmente fora de nosso campo de visão, limitado que somos pela idade de nosso universo e pela velocidade finita da luz, e admitir que somente porque não conseguimos observá-los a realidade deles seja uma falácia, me parece aí sim uma falácia.

Em adição, cada vez mais acredito que o big-bang, que foi o início espaço/temporal de nosso universo, tenha sido apenas mais um pequeno marco na “longa” jornada que o todo natural, que que possibilitou início ao nosso universo, que vem perdurando. Independente de poder definir o tempo antes do big-bang, algo ocorria “antes” (seja lá antes o que for fora de nosso espaço-tempo) e que deu o start ao nosso big-bang e talvez a uma infinidade de outros, e em sendo verdade esta crença, assumir que sua existência não é real me parece um jogo de palavras.

O real existe independente de nossa existência, ou teríamos que admitir que o universo era irreal até que o homem tivesse atingido um grau mental de poder se questionar e perceber esta realidade. Mesmo nosso pequeno planeta, existe desde muito antes de nossa chegada por estas bandas, e se ele não era real, então como pudemos surgir de tamanha irrealidade.

Acredito ser uma falácia definir que o real existe apenas para e por nossa necessidade. Acredito ser falacioso que o real possa ser irreal, e que apenas exista de forma pragmática para nos servir ou nos ajudar (aliás se ele nos ajuda e estamos nesta bagunça social, imagina se ele não nos ajudasse).

O real existe. Nós o percebemos apenas em parte. Nossa realidade é assim reflexo de nossa percepção e por esta forma incompleta. Podemos, e devemos sim, interpretar a realidade, o momento presente e tudo nele, como passível de ser experimentado, utilizado ou apreciado, baseado em nossa percepção, mas nunca afirmar que a realidade existe por e para nós.  

Uma infecção pode estar agora se reproduzindo dentro de nós e não a percebemos, e ela não é menos real por que não a percebemos. Logo ela atingirá um estado infeccioso tal que a perceberemos, mas ela era real tanto antes como depois de detectada. Um meteoro pode estar agora em rota de colisão com a terra, e não o percebemos, mas em algum momento nós o perceberemos e ele não era menos real antes de o percebermos, do que depois de o percebermos. A vida não existia sobre a crosta terrestre, apenas nas águas, e a lua já estava lá, houve a necessidade de sairmos do mar para que ela pudesse ser notada, mas ela não era menos real antes desta ousada mudança da vida para a crosta terrestre. Não conhecíamos a existência de água em marte, em nossa lua e em outras luas, mas ela foi localizada, e a sua existência não é mais real hoje do que era antes de nossa descoberta.


Podemos discutir que nossa percepção da realidade seja até certo ponto “irreal”, posto que não possuímos mente e sensores com propriedades e características para perceber o todo, diretamente, sem o prévio mapeamento de imagens e processamento mental, e mesmo assim, e talvez mesmo por isto, apenas em parte percebemos, por isto podemos induzir que nossa realidade possa ser distorcida, um pouco como as cores que não existem em objeto algum, uma vez que os elementos são por definição incolores, mas na prática percebemos cores, e talvez estas sejam uma adaptação de nosso sensores/cérebros a nossa limitação de apreender o todo, como ter entendido que ver não é uma ação ativa, é sim passiva, fótons são criados ou refletidos nos objetos e chegam até nossas retinas, e não como ainda hoje pareça para alguns que olhamos emitindo “alguma” coisa até os objetos.

Posso estar errado, mas entendo que a realidade exista sim, ela está lá, está aqui, está aí, mesmo que no mundo atômico a realidade tenha de receber algum retoque de sentido semântico, mesmo que ela não seja absoluta, talvez seja resultado de probabilidades, mas probabilidades não são chutes e sim um valor também absoluto da própria probabilidade. Ou que seja a realidade resultado de plena decoerencia natural. Eu não sei que átomo em si decairá em um material radioativo, mas sei a exata taxa probabilística de seu decaimento, assim o decaimento não é menos real somente porque conheço apenas a probabilidade de decaimento.

Enfim entendo falaciosa ou superficial a definição de que a realidade inexiste simplesmente porque não a posso perceber em toda sua completude e profundidade.




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Sou um ateu racional e um livre pensador, ou melhor, eu sou um ateu que tenta ser (que se compromete a ser) racional e livre pensador.

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