A tolice humana

Maior que a tolice de muitos homens, somente o aparente (quem sabe verdadeiro) infinito do universo. Pessoalmente não entendo o universo como infinito, pelo menos não na visão vulgar do termo infinito, como sendo algo espacial que me permita ir sempre além, e sempre chegar a algum “lugar” novo. Não quero parecer excêntrico ou louco e deixar a impressão de que creia que exista uma parede, ou algum terminador, que se em sendo possível caminhar sempre em uma direção, acabaríamos por bater neste algo, algo como uma parede que finda um cômodo. Não creio em um universo finito desta forma. Creio sim em um universo fechado sobre si mesmo, sendo assim finito no sentido “global” espacial, onde seja possível, inclusive, mensurar seu “volume”, mas que seja infinito no sentido de que sendo ele fechado sobre si mesmo, se caminhasse tempo e distância suficiente, retornaria ao ponto de origem e poderia continuar indo além, por infinito tempo, algo como a superfície da terra, que é finita posto que possa mensurá-la, mas que infinita no sentido de que, escolhida qualquer direção, posto a caminhar nesta direção, qualquer que seja ela, no tempo e na distância certa, retornarei ao ponto de origem, e posso assim continuar andando por tempo infinito. Em uma superfície esférica é fácil percebermos esta dicotomia, superfície finita em área, mas infinita por não possuir um início e fim demarcados, poderei sempre me deslocar em qualquer direção que não chegarei a um fim definido. No caso da superfície esférica, fica fácil perceber esta dualidade porque estamos fora dela, quanto ao universo, esta abstração é muito mais difícil, pois estamos falando de um universo curvado e fechado sobre si mesmo, em três dimensões espaciais (talvez mais), “quadridimensional” quando incluímos o tempo (o espaço tempo), e por estarmos dentro dele, somos parte de seu “volume”, e por estarmos imersos nele, fica difícil, praticamente impossível, para a maioria, perceber esta situação, pois realmente é uma abstração não intuitiva esta de estarmos em um universo fechado, que assim seria finito mas de infinita possibilidade de deslocamento, viveríamos assim em uma espécie de bolha multidimensional, limitada fisicamente, mas sem fim físico ou aparente.


Somos livres para pensar? Sim, que bom, pois me permite a capacidade de ir fundo e esmiuçar ao máximo o que penso. Ser livre para pensar não pode ser confundido com libertinagem de ação. Apesar de a realidade me permitir total liberdade de ação, dentre todas aquelas possíveis, o respeito à natureza e à vida, além da dignidade social e humana, nos impõem limites racionais de ação e comportamento. 

Sou livre para crer? Sim, mas até mesmo para crer, necessito de certa racionalidade, necessito ainda, quando findar a disponibilidade de argumentos racionais, de muita análise crítica. A liberdade para crer não deve, ou não deveria me permitir crer em absurdos, e não falo apenas de crenças místicas ou religiosas, falo de crença como um conjunto enorme de fatos, princípios, conceitos que sou subjetivamente levado a acreditar, mesmo que sem provas ou evidencias algumas, e todos nós somos cheios de crenças, e é assim mesmo, a convivência com as crenças é necessária, posto que nos é impossível saber tudo sobre tudo. Infelizmente muitos acreditam sem nenhuma racionalidade, sem nenhuma análise “criteriosamente” crítica ou lógica, muitos acreditam, mesmo que contrariamente as provas e aos modelos estabelecidos, muitos creem mesmo contra todas as evidências, e se agarram a buracos no conhecimento, buracos estes que são ao longo do tempo fechados por novos conhecimentos. Muitos creem por que estava escrito, porque foi revelado, porque autoridades daquele saber assim o afirmam, ou simplesmente porque lhe colocaram certo medo de descrer daquela assertiva ou daquele fato. Muitos creem por interesses, por facilidade, por moda ou por ser mais fácil crer do que pensar.  Crer contra evidências, provas, raciocínios lógicos ou em algo que já foi formalmente refutado é fanatismo, é fundamentalismo, é, me perdoem a forma grosseira, estupides e burrice, mas em alguns casos sempre fica a defesa de dizerem ser somente uma questão de fé.

 Crer no que está provado, não é crer, é saber. Descrer no que já foi refutado, não é descrer, é também saber. Como exemplo: Eu não creio na gravidade, ela está aqui, então eu não creio, eu sei que ela existe, o que eu posso ou não crer é no meio pelo qual a gravidade atua, podendo ser uma deformação espaço-temporal (relatividade), podendo ser que exista o tal gráviton (teoria padrão da quântica), podendo ainda ser uma mistura das duas teorias, ou mesmo estas acrescida de mais alguma terceira teoria ainda não percebida, podendo mesmo ser o reflexo de algo que exista em alguma dimensão fora de nosso universo espaço-temporal, ou podendo não ser nenhuma das comentadas anteriormente e ser referente a algo totalmente novo, simples ou radical.

Alguém já disse que a ignorância é uma benção, sim, uma benção para o sistema, para os grupos falastrões, para aquelas religiões que baseiam sua existência sobre impossibilidades, para o estado dominante que assim mantem, na ignorância, verdadeiros exércitos de fácil manobra e indução. A ignorância é uma benção para aqueles que dominam, que detem o poder, que precisam do povo como massa de manobra. Ninguém sabe tudo, é verdade, é impossível sabê-lo. Sempre terei que acreditar em algo por terceiros, mas o que diferencia um saber cientifico de uma falso saber, de um “saber pseudocientífico” é que no saber científico a prova é disponível para todos, não fica circunscrita a revelações, sempre poderei refazer a experiência e comprovar ou refutar a prova, e este é o principal filtro natural do método cientifico, para ser uma verdade, um saber, outros, em outros laboratórios deverão ser capazes de replicar todo o experimento, e sempre com a intenção de refutá-lo, de encontrar falhar em seu conceito ou em sua análise. A ciência, que nada inventa, nada cria, uma vez que ciência é simplesmente saber, conhecer, perceber ou modelar, o que na natureza já exista, possui seu filtro natural. Uma prova somente é aceita quando vários outros pesquisadores ou laboratórios diferentes e independentes conseguirem reproduzir toda a experiência, e mais ainda, a própria vaidade natural do cientista trabalha na busca de refutar toda e qualquer prova científica apresentada, e é exatamente esta refutação que faz a ciência caminhar no conhecimento, sempre que refuto algo, estou mais perto da verdade, mesmo que nunca consiga chegar a ela, em alguns casos, plena e totalmente.

A ciência, ou o conhecimento, é meio que algo como uma ilha (o saber) em um mar do desconhecido. Imaginemos a superfície da ilha como o conhecimento, sempre que algo novo eu sei, a área desta ilha cresce, e crescendo esta área, cresce o perímetro da ilha, e assim cresce a área de contato entre o conhecido e o desconhecido, assim quanto mais eu sei, maior o perímetro do conhecimento, e maior a interface com o desconhecido, assim mais aumenta o contato com o desconhecido. Quanto mais eu sei, mais eu sei que não sei.

Mas a tolice humana é grande, e a preguiça de pensar enorme, isto já é um problemão no mundo laico, piorado ainda quando surge o temor de ofender a algum ser divino ou místico. Como não crer em algo, se eu creio que foi algum deus quem falou ou terminou aquilo? Como pensar livremente, se creio em um deus onisciente que sabe exatamente em tudo o que penso, e posso estar ofendendo a ele com um pensamento livre? Mas não pensar, não criticar, não racionalizar quando possível, não buscar a real verdade por traz dos fenômenos, nos faz tolos de bom conhecimento.

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