Verdade e ética
Infelizmente para nós, a verdade e a moral não andam necessariamente lado a lado, e nem existe razão natural para que assim o fosse. Em verdade, a moral e a verdade, diversas vezes estão em hemisférios opostos. Muitas vezes a verdade nos parece imoral, e outras vezes a moral não reflete a verdade.
Isto nos parece, a princípio, uma tragédia existencial. Gostaríamos de conhecer toda a verdade real da vida e do universo, e gostaríamos que ela sempre refletisse valores que consideramos éticos e morais. Não existe absolutamente nenhuma razão natural para que isto assim o seja.
A verdade por si só é aética, não apresenta, nem representa valores quaisquer, ela reflete a realidade seja esta social, mental ou física, ela é sempre natural e imanente em sua amplitude. A moral reflete nossos princípios culturais e pessoais, são valores que atribuímos as coisas e também são valores que atribuímos ou atribuiremos as verdades que conhecemos ou que venhamos a conhecer. A ética e a moral nascem da necessidade humana de conviver em sociedade e em buscar dignificar nossa condição humana e social.
A mesma relação vale, é claro, para as verdades científicas, afinal de contas verdades são verdades. Não existe, da mesma forma, ligação entre estas e valores morais ou éticos. A verdade científica é também crua, nua e fria. A ética deve entrar no como nos utilizaremos destas verdades científicas. O que deveria caber é um cuidado e um zelo adicional quando verdades científicas possuem potencial para serem imoralmente utilizadas, gerando assim perigo no manuseio destes conceitos, modelos ou provas científicas, entretanto quem define o que é moral e imoral, no geral, excetuando-se extremos, não é uma tarefa fácil esta definição, pois que tem muito de pessoal. Os cientistas necessitam abordar de frente toda a verdade científica, mas deveriam dedicar um conceito de humanidade e uma humildade especial para as verdades científicas que possam ser utilizadas ou servir de escusas para maus atos ou para justificar perseguições e preconceitos ou mesmo exclusões, quaisquer que sejam estas.
Não abrir mão das verdades científicas deve ser o caminho, mas devemos temperar esta procura e sua divulgação com um molho especial de humanidade e um recheio natural de dignidade humana. Eu sinceramente não acredito que uma verdade absoluta, natural e imanente possa ser imoral e indigna, me bato que o problema está no mau uso desta verdade. Muitas vezes a verdade é simples, e deve servir de revisor natural para nossos valores éticos e morais, que muitas vezes estão distorcidos e corrompidos por falsas verdades, mitos e propagandas enganosas. Entendo que se uma verdade parece totalmente indigna, ou esta verdade está incompleta ou ela não é uma verdade na concepção da palavra, ou nossa valoração de humano e digno esteja distorcida, mas um cuidado muito sério deve ser mantido por todos, cientistas ou não, de que o fato de se utilizar de verdades precárias e parciais é típico dos que desejam manipular a sociedade e em especial os mais ignorantes (no sentido único daqueles que ignoram verdades maiores).
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