O sábio é um egoísta que deu certo
Acabei de ler: “O sábio é um egoísta que deu certo.”.
Concordo com a parte que afirma que o sábio é um egoísta, uma vez que pela imagem comum e corrente de um sábio, este é aquele que aprendeu a viver em felicidade plena. Sim, entendo ele, o sábio, um egoísta, e como egoísta, por si só, não pode ter dado certo, pois que somos sociais e o egoísmo é avesso ao social, assim concordo com a primeira parte da assertiva e não concordo com a segunda. A noção de que o sábio se diferencia do “conhecedor, daquele que busca saber(es)”, pelo “bom” uso de seu saber, em prol do alcance de um estado de “êxtase” contínuo, de paz espiritual e de felicidade pessoal, faz deste ser um egoísta para mim, se é que existe alguém que consiga realmente fazer plena e totalmente apenas bom uso do seu saber, e mais ainda ter alcançado algum estado de plena felicidade e alegria perene. Como alguém que pudesse realmente ter conseguido vasta sabedoria do viver, do real, da natureza, e da situação social, política e econômica em que todos, pelo nosso vasto-pequeno planeta, vivemos, que tenha aprendido a diferenciar a verdade das mentiras do que existe, ter conseguido ir além das aparências dos fenômenos, e ser capaz de fazer bom uso do realizar sua existência, pode assim mesmo ser feliz. Não creio em sábios, creio em pessoas, em seres humanos, alguns se esforçando para serem mais humanos, e estes nem que seja por sensibilidade e empatia sofrem pelos que sofrem, sofre com os que sofrem, e sofrem para encontrar meios de retirar do sofrimento aqueles que sofrem. Se mesmo assim alguém conseguiu “real sabedoria” que lhe permita uma felicidade plena, este ser só pode realmente ser um enorme e insensível egoísta, pois por si, para si, e unicamente consigo, sublima a loucura do mundo, a miséria social, mas também a miséria política, a ganância econômica, sublima até mesmo a prepotência dos poderosos, para realizar em seu mundinho uma paz e uma felicidade “afastada” e independente do sofrimento de milhões.
Quanto a segunda parte: “Que deu certo”. Cabe perguntar: A quem? De novo, como algum egoísta pode ter dado social e humanamente certo?
Como, “dar certo” também é algo relativo e subjetivo, talvez tenha dado certo somente para consigo mesmo, deu certo para sua vidinha egoísta e insensível, deu certo em sua prepotência de que a felicidade é individual, e deu certo para os seus interesses.
Prefiro os “conhecedores”, aqueles que buscam saberes, ou mesmo os que ainda estão construindo seus saberes, para um fim mais prático, para um realizar pragmático do social humano e do respeito a natureza, para uma transformação do que aqui está, para reconstruir, pois que preferindo sofrer com os irmãos em espécie, eles sentem o peso da dor que podem e que devem lutar para extinguir, ou pelo menos minimizar. Prefiro aqueles que se dão de corpo e alma por tentarem algum nível de transformação social, política, econômica e também pessoal. Prefiro aqueles que ao invés de ficarem meditando, pensando, orando ou fazendo qualquer tipo de retiro, optam por obrar, por agir, por tentar, por buscar aprender e se expõem por isto ao sofrimento comum, e a opressão do sistema e da sociedade para que nada seja mudado.
Por princípio pessoal, não confio em ninguém que se auto intitule como sábio, prefiro confiar naqueles que “sem sábia” sabedoria, mas que mesmo assim se expõem na tentativa de transformarem o agora, enquanto aproveitam para construir seus saberes e conhecimentos. Prefiro confiar naqueles que se aventuram em conviver para transformar, em sofrer para dividir o sofrimento, que não se calam, ou quando se calam é para dar mais foco em seu trabalho de formiguinha por um ideal prático e real de inclusão social e de dignificação humana. Prefiro confiar naqueles que não se entregam a passividade ou a sublimação do sofrimento de tantos, mas que por dividirem este sofrimento buscam reconstruírem-se a si mesmos, transformando, ou pelo menos se expondo na tentativa de algo transformar nesta realização humana e social da qual somos atores e diretores, e não somente meros espectadores.
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